terça-feira, abril 01, 2014

Esquecer? Nunca!

De algum tempo para cá, sem vontade nem apetite para escrever, sinto uma imensa melancolia, perante a beleza e riqueza dum país que sofre no corpo e na alma como qualquer cão amarrado a uma casota e rodeado por todo o lado de raposas e predadores. Cada vez mais sinto que as pessoas vivem debaixo do medo e raiva correndo-lhe pelas veias, onde o sufoco do dia que se segue, é sempre pior ao do dia presente.
Deambulamos conduzidos pela mão da Troika e da escumalha sem sentimentos, instalados nas diferentes administrações e representações que nos conduzem através de personalidades rançosas que, com falinhas mansas nos canais televisivos, às horas nobres, nos conduzem ao curral dos senhores do poder.
Uma grande maioria das famílias portuguesas, vivem na angústia e revolta perante um Estado que cada vez mais interfere negativamente nas suas vidas, onde a dignidade humana é cada vez mais ultrajada.
Protegem-se os mafiosos, como os Loureiros, os Limas, os Jardins e tantos outros, e fomenta-se uma mentalidade mafiosa, num Estado sem rumo próprio, onde o submundo da justiça comunga com a política subterrânea jacobina dos diversos governos, deitando achas na fogueira duma emotividade que ofusca a razão com o fumo dos sentimentos difusos que vão da raiva ao desespero.
O futuro encontra-se cada vez mais ensombrado, e sem esperança, depauperado por um miserabilismo e leviandade de muitos comentadores cínicos e convencidos que se aproveitam duma certa divagação e de opiniões entumecidas como se opinião e realidade fossem a mesma coisa.
Fomenta-se um pessimismo amedrontador que inibe a própria iniciativa e o espírito de investimento, cultivando-se o extremismo emocional até à exaustão, num sistema político que serve os interesses individuais e partidários a nível nacional, servindo o compadrio da avalanche dos arrivistas, criando um clima de medo, desconfiança e intriga entre os trabalhadores.
Subjugados às sanguessugas, arrasta-se o Povo para um pessimismo medroso e amedrontador, num ambiente de tudo contra todos, predadores e subjugados, sem consciência de uma responsabilidade nacional, onde a contestação social, mais que objectiva, é, muitas vezes, manipulada por grupos que vivem de mordomias à custa do Povo.
O dilema de Portugal, é encontrar-se nas mãos duma direita ultra conservadora e fascizante, e de uma esquerda intransigente e que não se entende, deixando os trabalhadores entregues à gula dos senhores no poder e dos capitalistas sem alma social nem consciência nacional.
Perante estes factos, assistimos à pilhagem dos país, com um Estado vendido e depravado de figuras sinistras, os quais deveriam estar sob observação judicial, assim a justiça assumisse o dever de fazer valer a verdade, julgando e criminalizando todos quantos tiveram responsabilidades do estado calamitoso a que o país chegou. Mas não, por outro lado, constatamos que a honra dos predadores é legitimada com a desonra da Nação.
Estranho, verdadeiramente estranho é vermos a cortina de silêncio a que se assiste por parte dos diferentes órgãos políticos, onde um país é colocado na bancarrota e nós somos obrigados simplesmente a esquecer que houve gente que roubou, corrompeu, mentiu, defraudou. Muitos desses protagonistas, continuam a ser os mesmos protagonistas sentados no parlamento ou nos mais elevados e bem pagos cargos que, em muitas das vezes, criaram para eles próprios e que continuam despudoradamente a sugar o País, que é o mesmo que dizer, a nós.
Estranho, verdadeiramente estranho é ainda pensarmos que somos uma Nação, pois se formos, só se for de “bardamerdas” e frouxos. As medidas levadas a cabo por este governo, incidem sempre sobre os que menos capacidades têm para reagir, reformados e pensionistas que, não podendo usar o direito à greve, como arma para contrariar a afronta a que são submetidos, sofrem as consequências de imediato, como se de um abono de família fossem para fazer frente às necessidades orçamentais do País.
Juntando-se a estes últimos, os funcionários públicos, são a fatia mais à mão para as intenções do governo concretizar o empobrecimento a que se propuseram nos compromissos com a Troika. O problema e a situação em que colocaram o País e os Portugueses é muito grave e, neste momento, coloca em causa o próprio regime, e só uma mudança de regime poderá ser a solução para o actual quadro de necessidade em que vivemos, com um novo ordenamento jurídico reformulado, pois a justiça não funciona e esta cambada de mafiosos continua a ficar impune.
É revoltante que as famílias desses bandidos, movimentem milhões de euros em offshores, como se fosse possível alguém ganhar de forma honesta essas quantias em tão curto espaço de tempo. Isto, depois de tudo a que temos assistido, como o processo Freeport ou da Cova da Beira, o processo dos Submarinos, o BPN e o BPP, entre outros, onde os factos são demais evidentes e as provas, mais que suficientes, para que se houvesse justiça, os seus autores estariam atrás das grades e as suas fortunas e das suas famílias, confiscadas.
É revoltante e inadmissível que um Duarte Lima continue impávido e sereno a voltar as costas a um caso que evidencia uma possível ligação a um homicídio antecedido de roubo, e continue a gozar com a cara de todos nós, só porque tem muito dinheiro e o dinheiro numa sociedade corrupta, como a nossa, iliba os criminosos e dá-lhes protecção.
Como se pode justificar que o governo de José Sócrates, nacionalize um banco, para tapar as dívidas de alguns amigos, entre os quais um Loureiro, e mais uma vez ficarem cerca de 2.500 milhões de euros para serem pagos pelo zé-povinho.
Como se pode justificar que o actual governo, venda depois esse banco por 40 milhões de euros, e assuma as suas dívidas e compromissos, as quais já se perderam os números, mas de certeza andam já acima dos 10.000 milhões de euros, para salvar os banqueiros, e ande a pedir dinheiro emprestado ao FMI e restantes agiotas internacionais, colocando a dívida pública(????) em valores que jamais seremos capazes de pagar.
É estranho que, estando a nossa dívida pública, em valores astronómicos, os sábios (???) economistas deste país continuem a afirmar que as nossas contas estão melhores e que nós estamos em condições de andar pelo nosso pé, quando este governo, em dois anos e pouco de governação, tem conseguido alienar todos os recursos e meios capazes de poderem produzir mais-valias?
Mais estranho ainda, é quererem que nos esqueçamos de tudo isto e muito mais que, nestas poucas linhas, seria impossível descrever.
Apelar à contestação e à revolta contra este governo e classe política com responsabilidades neste país, começa a ser insuficiente, por isso devemos apelar à responsabilização desta classe política que nos tem hipotecado o futuro, agora esquecer é que não!
João Carlos Soares

Barreiro, 01 de Abril de 2014 

Sem comentários: