sábado, janeiro 26, 2013

De que falam e pensam os Portugueses?



Parecem não ter fim à vista o mar de fatalidades para os Portugueses, se olharmos para as medidas que diariamente nos são apresentadas pelos governantes, nas diversas áreas de intervenção do Estado, medidas essas elaboradas e impostas do exterior, mostrando a demagogia política em que actualmente vivemos, numa prova de incapacidade dos nossos governantes em compreenderem e ouvirem as camadas mais excluídas da sociedade.
Privilegiam a voz das elites e classe média alta, aqueles que têm poder e influenciam a opinião pública, ou seja os seus eleitores mais poderosos, dando azo e facilitando o crescimento da extrema-direita de conformação populista, conquistando audiência entre as camadas mais desfavorecidas e desprotegidas da população.
Através de um discurso populista e intransigente, ao ponto de convencer os mais incautos, de que mais vale perder e trocar a liberdade pela segurança, ou seja, despoletando um monstro adormecido, o totalitarismo, onde o direito do contraditório e combate político-partidário se transformam numa guerra do Estado contra todos, como se a insegurança fosse o resultado e aceitação da violência política patrocinada pelo Estado sob a conjectura da democracia.
As sucessivas derrotas dos governos considerados e liderados por partidos de esquerda, na europa, só pode ser ou ter alguma fundamentação, na transfiguração da tão apregoada terceira-via, que praticamente se esfumou e deixou confundir com as políticas defendidas pelos partidos de direita, alguns casos em processos de verdadeira transmutação ideológica, que não conseguindo conquistar eleitores, confundem o eleitorado de esquerda, aumentando o descrédito a apatia e abstenção de algum eleitorado flutuante, não valendo a pena votar numa esquerda que não se assume como tal.
Quando as expectativas políticas alimentadas num sistema democrático, deixam de corresponder e expressar a possibilidade de, mesmo no âmbito de um sistema político-económico em recessão, como o que actualmente vivemos, garantir as condições para uma vida justa e melhor, quando a degradação se acentua, resultado das sucessivas eleições, numa alternância de governantes sem qualquer resultado à vista, quando se assiste ao cada vez maior enriquecimento e prosperidade dos mais ricos, e melhor instalados no sistema, onde o individualismo egoísta da classe média-alta da sociedade encobrem a verdadeira realidade social, se recusa e se deixa de partilhar o bem comum na sociedade, criam-se as condições ideais para o desabrochar da tirania, reduzindo-se a democracia apenas ao debate técnico e às habilidades para conquistar o poder, instalando-se na sua plenitude um autêntico horror e repúdio dos eleitores para com a política.
Esta crise de esquerda, este desencanto com a política e a ideologia partidária, não é de hoje. Esse desencanto e desmobilização vem-se sentindo de eleição para eleição, basta verificarmos os níveis de abstenção registados ao longo dos 38 anos de democracia em Portugal, numa autêntica prova de rejeição do eleitorado, criando uma maioria silenciosa em que se transformaram os descrentes da esquerda no sistema político vigente, e a dar origem a condições para que os extremos prevaleçam. Para contrariar esta avalanche corrosiva da democracia e dos seus valores, torna-se um dever e obrigação, que a esquerda se questione sobre quais os mecanismos que efectivamente devem desenvolver e defender, no sentido de uma maior e melhor prestação na gestão da coisa pública ao serviço dos cidadãos.
Um governo de esquerda que se confunda e não se diferencie por completo, das estratégias e políticas de direita, não passa de mais um governo que somos obrigados a suportar até que cheguem novas eleições, resultando em constantes alternativas esquerda-direita, de quatro em quatro anos, com as inevitáveis repercussões económicas, e de estratégia para o País, afundando-nos numa dívida que se transformou num drama para as populações, e as consequentes represálias dos credores externos, tal o desmando nas contas públicas, que governos atrás de governos vão deixando, sem que para tal sejam ou venham a ser responsabilizados os seus protagonistas.
Não existindo progresso, ou as mais-valias se concentrem cada vez mais na mão de poucos, aumentando assim o fosso entre ricos e pobres, a desigualdade e a miséria aumentam pelo mundo, deixando mazelas sociais que face à crise instalada a nível mundial, começa já a fazer-se sentir, até mesmo nos países com mais recursos e maior poder económico.
Acreditávamos que o fascínio da inteligência humana e das virtudes morais, pudessem enfrentar o poder desenfreado das elites governamentais corruptas, mas enganámo-nos redondamente, depois de confrontados com os valores políticos praticados nesta pobre democracia em que vivemos, deprimida e corrompida, envenenada pelos faustosos banquetes de uma casta política vendida e desfigurada, empurrando cada vez mais a sociedade portuguesa para a miséria, não passando de um mero pretexto para conquistar o poder e exercê-lo de forma cobarde e injusta.
Contestar ideias, analisar princípios e debater pontos de vista diferentes, para além de ser saudável e bom para uma verdadeira democracia, seria a perfeita combinação no reconhecimento de que todos podemos errar, tão necessária para contrariar a arrogância e o egoísmo de alguns, cujo único compromisso que reconhecem é para consigo mesmo, nem que para tal seja necessário sacrificar a ética e o bom senso.
Por isso, com a voz fraca de um cidadão que pouco poderá influenciar, ou induzir outros a opinar e influenciar muitos mais, sem a intenção de surpreender com palavras persuasivas, ou incentivar com qualquer outra razão que não sejam o de fazer acordar o sentimento de cidadão que existe dentro de cada um de nós, chamando a atenção para o facto de que, nunca como hoje, o peso do exercício pleno da cidadania, teve ou terá tanta importância na participação de cada um de nós.
A bem da verdade, muitos nunca se aperceberam de que a situação actual em que vivemos, foi o resultado da conquista e dos direitos que custaram o sangue, o esforço, suor e lágrimas e a luta de muitos que, no passado, não se acobardaram nem se pouparam a esforços para que as gerações futuras pudessem ter acesso e garantia à liberdade e dignidade enquanto pessoa humana no seu todo.
João Carlos Soares
Barreiro, 26 de Janeiro de 2013

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