De governo em governo, a astúcia dos bandos no poder, uns
com mais outros com menos, mas todos com responsabilidades que deveriam
assumir, ou seja, os homens e mulheres que decidem e decidiram por todos nós,
os donos do capital, dos grandes negócios e da manipulação social, têm sido
beneficiados, e envolvidos por avalanches de escândalos de corrupção, ou a eles
relacionados, que quando noticiados, causam um enorme estardalhaço, mas que,
pouco tempo depois, passam ao esquecimento.
Até parecem aquelas dunas que se vão formando ao longo
das praias, onde o vento vai depositando areias, camada sobre camada, ficando
somente visível a última a ser depositada, mas só até que outra camada por cima
dela se coloque.
É exactamente ao que assistimos durante quase quatro
décadas, a uma sucessão de escândalos relacionados com corrupção activa,
protagonizado por esses atores que aos olhos do grande público, conseguiram
passar uma imagem convincente de gente decente e honesta. Quando apanhados e
implicados nesses escândalos, são recompensados com a impunidade, porque por
cima das suas trafulhices, outras entretanto já estavam sendo praticadas por
outros que lhes sucederam, numa autêntica cultura político-económica perpetrada
e oriunda de cérebros operacionais insaciáveis, que não respeitam qualquer
limite legal, moral ou institucional.
No entanto, este tipo de comportamentos e
procedimentos ilícitos, tal como a areia na praia, ao sair de um lado para outro
destapa, e de escândalo em escândalo, de trafulhice em trafulhice, começa a
faltar matéria para os vindouros, ou se quisermos continuar a fazer a analogia,
começa a faltar areia para mover, e o que fica é um grande buraco, colocando a
descoberto as patifarias a que o sistema económico esteve sujeito e sem
remissão.
Alguns dos que se deixam apanhar com a mão na massa,
ou conotados com negociatas que são autênticas patifarias financeiras, usando
de uma racionalidade impressionante, recorrem a malabarismos e argumentação
evasiva, contratando os melhores advogados da nossa praça, montando autênticas
barricadas legais, usadas e instituídas em leis, muitas delas por eles próprios
elaboradas, despistando os investigadores das falcatruas de que os seus
constituintes são acusados, camuflando-os e encobrindo a realidade perante a
opinião pública e os tribunais.
Esta gente refinada, sofisticada e engravatada, que
faz voltar à nossa memória o tempo do cheiro a mofo, das manifestações públicas
do Estado Novo, usam o seu status
social, quase de forma alienada, rompendo a dignidade que o desempenho de
qualquer cargo público exige, a troco de vantagens económicas, perpetuando no
tempo a continuidade destas elites pervertidas no poder.
Até quando irá resistir esta frágil república de
bananas em que transformaram um país com História, um país com Orgulho, um país
que respeitava e se fazia respeitar?
A resposta não é nem será fácil, até porque se
aproximam e interpõem no horizonte futuro, camadas de nuvens muito cinzentas,
transformando num caos de sobrevivência a vida de cada cidadão, neste país
devassado e envolto na turbulência de escândalos, corrupção e favorecimentos ilícitos,
alimentando uma espiral de outros escândalos que se avizinham, até à alienação
total do património da Nação Portuguesa.
É preciso prestar-se muita atenção às manobras de
alguns sectores políticos, que conotados desde sempre com as políticas actuais,
e não só, geradoras do descalabro e insolvência a que o país chegou, continuam
através de manobras e falsos desentendimentos, neste nevoeiro cinzento de
contradições, descartar-se com a inevitabilidade das suas decisões para a recuperação
de algo em que nem eles próprios acreditam, tal o grau de inoperância e de
gestão da ineficiência governamental, apoiada pelo Presidente da República,
talvez senão, um dos principais responsáveis da situação de desmantelamento da
máquina produtiva e de transformação operada neste país no tempo das vacas
gordas.
Podem-se constatar diversos tipos de aldrabões
compulsivos, nesta estrutura social recheada de contrastes, sentindo-se algum
estardalhaço entre as facções das elites no poder, que não são mais do que pruridos
morais e arrufos de namorados. A corrupção e ladroagem em alternância, entre
comparsas e adversários, são meros trajectos de enriquecimento em que se
transformou esta monarquia de manhosos, travestidos partidariamente, num
sistema que apetece e se abastece.
Não poderá haver apelo à cidadania e à reflexão cívica
sobre o real compromisso das populações, políticos e governantes, se aos
caminhos a serem percorridos no futuro, às dificuldades a serem enfrentadas pelas
populações, não forem apresentadas sem ilusões, com coerência e total
transparência possíveis soluções para os nossos problemas.
Nunca será demais alertar para o carnaval eleitoral
que se aproxima, onde os oportunistas vão estar de serviço, para fazerem
prevalecer as suas ideias escondidas por detrás de modelos já defendidos por
velhas raposas da política, apresentando-se como seus descendentes e cúmplices,
numa tentativa de neutralização de políticos decentes e com provas dadas, e de
comportamento oposto a esse sistema de opressão, corrupção e sabotagem.
Concluindo, podemos dizer que ao cidadão inconformado
com esta triste realidade, colocado à margem do poder, se nada fizer no sentido
de inverter este processo de desmantelamento das democracias participativas, ficarão
manietados e subjugados a um modelo social pervertido, empobrecido e falido, em
virtude de estarem a ser representados nas estâncias governamentais, por
lacaios e oportunistas que representam uma economia capitalista liderada por saqueadores
e predadores ao serviço do poder económico mundial.
João Carlos Soares
Barreiro, 04 de Janeiro de 2013
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