quinta-feira, janeiro 03, 2013

Bando de Trafulhas à Solta



De governo em governo, a astúcia dos bandos no poder, uns com mais outros com menos, mas todos com responsabilidades que deveriam assumir, ou seja, os homens e mulheres que decidem e decidiram por todos nós, os donos do capital, dos grandes negócios e da manipulação social, têm sido beneficiados, e envolvidos por avalanches de escândalos de corrupção, ou a eles relacionados, que quando noticiados, causam um enorme estardalhaço, mas que, pouco tempo depois, passam ao esquecimento.


Até parecem aquelas dunas que se vão formando ao longo das praias, onde o vento vai depositando areias, camada sobre camada, ficando somente visível a última a ser depositada, mas só até que outra camada por cima dela se coloque.


É exactamente ao que assistimos durante quase quatro décadas, a uma sucessão de escândalos relacionados com corrupção activa, protagonizado por esses atores que aos olhos do grande público, conseguiram passar uma imagem convincente de gente decente e honesta. Quando apanhados e implicados nesses escândalos, são recompensados com a impunidade, porque por cima das suas trafulhices, outras entretanto já estavam sendo praticadas por outros que lhes sucederam, numa autêntica cultura político-económica perpetrada e oriunda de cérebros operacionais insaciáveis, que não respeitam qualquer limite legal, moral ou institucional.


No entanto, este tipo de comportamentos e procedimentos ilícitos, tal como a areia na praia, ao sair de um lado para outro destapa, e de escândalo em escândalo, de trafulhice em trafulhice, começa a faltar matéria para os vindouros, ou se quisermos continuar a fazer a analogia, começa a faltar areia para mover, e o que fica é um grande buraco, colocando a descoberto as patifarias a que o sistema económico esteve sujeito e sem remissão.


Alguns dos que se deixam apanhar com a mão na massa, ou conotados com negociatas que são autênticas patifarias financeiras, usando de uma racionalidade impressionante, recorrem a malabarismos e argumentação evasiva, contratando os melhores advogados da nossa praça, montando autênticas barricadas legais, usadas e instituídas em leis, muitas delas por eles próprios elaboradas, despistando os investigadores das falcatruas de que os seus constituintes são acusados, camuflando-os e encobrindo a realidade perante a opinião pública e os tribunais. 


Esta gente refinada, sofisticada e engravatada, que faz voltar à nossa memória o tempo do cheiro a mofo, das manifestações públicas do Estado Novo, usam o seu status social, quase de forma alienada, rompendo a dignidade que o desempenho de qualquer cargo público exige, a troco de vantagens económicas, perpetuando no tempo a continuidade destas elites pervertidas no poder. 


Até quando irá resistir esta frágil república de bananas em que transformaram um país com História, um país com Orgulho, um país que respeitava e se fazia respeitar?


A resposta não é nem será fácil, até porque se aproximam e interpõem no horizonte futuro, camadas de nuvens muito cinzentas, transformando num caos de sobrevivência a vida de cada cidadão, neste país devassado e envolto na turbulência de escândalos, corrupção e favorecimentos ilícitos, alimentando uma espiral de outros escândalos que se avizinham, até à alienação total do património da Nação Portuguesa.


É preciso prestar-se muita atenção às manobras de alguns sectores políticos, que conotados desde sempre com as políticas actuais, e não só, geradoras do descalabro e insolvência a que o país chegou, continuam através de manobras e falsos desentendimentos, neste nevoeiro cinzento de contradições, descartar-se com a inevitabilidade das suas decisões para a recuperação de algo em que nem eles próprios acreditam, tal o grau de inoperância e de gestão da ineficiência governamental, apoiada pelo Presidente da República, talvez senão, um dos principais responsáveis da situação de desmantelamento da máquina produtiva e de transformação operada neste país no tempo das vacas gordas.


Podem-se constatar diversos tipos de aldrabões compulsivos, nesta estrutura social recheada de contrastes, sentindo-se algum estardalhaço entre as facções das elites no poder, que não são mais do que pruridos morais e arrufos de namorados. A corrupção e ladroagem em alternância, entre comparsas e adversários, são meros trajectos de enriquecimento em que se transformou esta monarquia de manhosos, travestidos partidariamente, num sistema que apetece e se abastece.


Não poderá haver apelo à cidadania e à reflexão cívica sobre o real compromisso das populações, políticos e governantes, se aos caminhos a serem percorridos no futuro, às dificuldades a serem enfrentadas pelas populações, não forem apresentadas sem ilusões, com coerência e total transparência possíveis soluções para os nossos problemas.


Nunca será demais alertar para o carnaval eleitoral que se aproxima, onde os oportunistas vão estar de serviço, para fazerem prevalecer as suas ideias escondidas por detrás de modelos já defendidos por velhas raposas da política, apresentando-se como seus descendentes e cúmplices, numa tentativa de neutralização de políticos decentes e com provas dadas, e de comportamento oposto a esse sistema de opressão, corrupção e sabotagem.


Concluindo, podemos dizer que ao cidadão inconformado com esta triste realidade, colocado à margem do poder, se nada fizer no sentido de inverter este processo de desmantelamento das democracias participativas, ficarão manietados e subjugados a um modelo social pervertido, empobrecido e falido, em virtude de estarem a ser representados nas estâncias governamentais, por lacaios e oportunistas que representam uma economia capitalista liderada por saqueadores e predadores ao serviço do poder económico mundial.


João Carlos Soares

Barreiro, 04 de Janeiro de 2013

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