O tempo passa depressa e, dentro de pouco tempo, acreditando nos
indicadores e notícias a que vamos tendo acesso, a sociedade portuguesa
irá ser chamada a escolher os seus governantes e representantes, mais
cedo do que seria previsível, face a um descontentamento generalizado,
tanta a pouca vergonha a que se assiste, pelo total desrespeito deste
governo, ao ter induzido os eleitores a acreditar nas propostas
apresentadas no último processo eleitoral, executando exactamente de
forma contrária, mentindo e renegando tudo o que prometeu, contrariando o
que à partida enunciou como bases programáticas para uma governação ao
serviço e na defesa dos interesses dos cidadãos.
Os políticos que iremos escolher, através de sufrágio universal, serão
os nossos representantes, aqueles que deverão decidir com base nos
programas propostos e sufragados, que poderão beneficiar ou prejudicar a
maioria da população, alterando e mudando as práticas e promulgando,
por vezes a seu belo prazer, muitas vezes de forma arbitrária e injusta,
mas que interferirão de forma directa no dia-a-dia da vida das
famílias, no presente e no futuro, da já minguada economia doméstica e
de pessoas honestas
Serão eles os responsáveis pela qualidade de vida das populações, como o
são a educação, a segurança, justiça, saúde, transportes e restantes
necessidades sociais.
Para que cumpram tão relevantes serviços, torna-se imprescindível que
cada cidadão escolha os seus representantes de forma consciente, séria e
madura, para que não nos voltemos a arrepender, frustrados e a
lamentar, como de certeza todos nós já o fizemos, tendo escolhido de
forma infeliz políticos e governantes sem o mínimo de deontologia para a
função, os quais têm feito resvalar a economia e a situação financeira
do país para um abismo, do qual não nos conseguirmos escapar e ao qual
parece estarmos irremediavelmente condenados.
Perante a miséria moral, material e social em que nos encontramos,
resultado dos níveis corrosivos de corrupção que tem alimentado toda a
cadeia ininterrupta de alternância no poder, de autênticos burlões
profissionalizados nas estruturas partidárias, começa a fazer escola a
ideia de que será pouco provável podermos vir a encontrar candidatos com
perfil à altura de tão importante desiderato.
Identificarmos-nos com os candidatos, passa por conhecermos a sua
biografia, reconhecer a sua postura ética presente e no passado, antes
de lhes concedermos a nossa confiança para que nos possam representar.
Se o não fizermos, se nos deixarmos levar pela autêntica máquina
trituradora propagandística dos partidos que os promovem, ficamos
expostos a oportunistas, desonestos, ignorantes e incompetentes, que
nada conhecem das necessidades e privações das populações, e estamos
gradualmente a degradar a nossa própria consciência cívica, o futuro do
país e dos nossos filhos e até o destino da própria sociedade.
O afastamento e a irresponsabilidade como, enquanto eleitores, deixamos a
escolha dos nossos representantes na opção dos outros e na mão de
máquinas publicitárias, mais raposas velhas e sanguessugas atraídos pela
cobiça do poder sub-repticiamente aparecem nos corredores da política,
numa total demonstração de decadência moral, social e política, onde
tarde demais nos apercebemos que, com esse tipo de comportamento,
estamos a contribuir para a perpetuação no poder de gente sem
escrúpulos. Perante este quadro, o que podemos esperar e exigir deste
tipo de governantes?
Por cada processo eleitoral a que somos sujeitos, mais uma oportunidade
para resgatarmos a nossa honra, a nossa responsabilidade cívica, o nosso
carácter e a nossa credibilidade, perdidas ao longo das muitas eleições
passadas, onde nos escusámos a assumir a responsabilidade que a
constituição na outorga de pleno direito.
É preciso estar atentos aos espertalhões e conhecidos corruptos que
fazem da política um meio e fonte eterna de enriquecimento ilícito
próprio, familiar e dos amigos. Sob a protecção da capa da imunidade
parlamentar, vão garantindo de impunidade continuando a usufruir de
privilégios e mordomias, escapando às malhas da justiça, sem serem
responsabilizados nem chamados a responder publicamente sobre os crimes
que ofendem e denigrem a pátria. Até parece que vivemos e alimentamos
uma sociedade masoquista, escolhendo os seus próprios carrascos, gente
sem envergadura moral e cívica, decência, compostura e competência.
É claro que há excepções à regra, e não podemos colocar todos os
governantes e políticos no mesmo saco. Sabemos e temos conhecimento de
honrosas excepções, mas esses não são alvo certamente das grandes
manchetes, nem capa de revista ou jornais, porque desempenham as suas
funções quase no anonimato, respeitando e sendo merecedores da confiança
e respeito entre os seus pares.
Temos o direito e a obrigação de exigir aos políticos um mínimo de
decência, compostura e competência, porque somos nós que os escolhemos
para que conduzam os nossos destinos com zelo, decência, honestidade e
competência, longe de qualquer tipo de estratagemas obscuros, sendo para
isso compensados com mordomias sem paralelo e remunerados com salários
que ultrapassam em muito o que o vulgar cidadão recebe, em compensação
pelo trabalho e contributo para o desenvolvimento e progresso do país.
Um país que começa a apresentar números constrangedores de pobreza,
criminalidade e corrupção, contrasta com a despesa despendida com os
seus políticos, tornando-se num atentado contra trabalhadores e gente
honesta que já hoje vivem no limiar da miséria.
Se soubermos votar e escolher melhor os nossos representantes, estaremos
a contribuir para uma sociedade mais rica, mais justa e competente,
condição fundamental para a criação de riqueza, que aposte
prioritariamente no investimento para o desenvolvimento e progresso
económico.
Não nos podemos esquecer que a nossa vida, o bem-estar de todos nós e o
destino dos nossos filhos irão depender das escolhas que fizermos quando
para isso formos chamados a nos pronunciar, através do voto, observando
atentamente o passado na vida dos candidatos que se apresentarem a
sufrágio.
Cada vez mais se nota a carência de pessoas justas, sensatas, humildes e
integras nos meios políticos. O brilhar sob os holofotes da ribalta,
transforma-se numa sedução pelo poder a que não conseguem renunciar,
moldando os acontecimentos a seu belo prazer, esquecendo-se que estão a
interferir na vida e no destino dos que os rodeiam e neles confiaram.
Por mais que nos crie indignação ver a mentira triunfar momentaneamente
sobre a verdade e a transparência, não podemos esquecer que nos cabe a
nós a liberdade e o direito inalienável de escolher, através do voto,
separando o trigo do joio, um acto de liberdade do qual resultam
consequências e efeitos, quer na qualidade de vida das populações, quer
na consolidação de uma sociedade equilibrada e mais justa.
O uso do “quero posso e mando”, que se manifesta inequivocamente através
das decisões cegas dos governos, evidenciam a falta de ética e
reflectem a baixa qualidade moral de quem possui o poder de tomar
decisões, manipulando os factos de forma indecente, violando os
legítimos direitos dos cidadãos e desrespeitando os princípios
programáticos com que se apresentaram ao eleitorado e da própria
Constituição sobre a qual juraram, e que os conduziu à liderança do
País.
Na maioria das vezes, os políticos não sabem lidar com o poder,
esquecendo-se que devem representar o povo e não a si próprios. Ouvem-se
discursos vazios ou sem sentido, mentiras que levam ao cepticismo e à
descrença de que possam existir perspectivas no futuro para um país mais
justo e solidário, num processo em permanente construção, pelo direito à
cidadania e direitos.
João Carlos Soares
Barreiro, 21 de Janeiro de 2013
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