terça-feira, maio 14, 2013

Os meus olhos e os meus ouvidos em Medina Carreira



“Olhos nos Olhos”, um programa que, semanalmente prende aos écrans da TVI 24, milhares de Portugueses, famintos e interessados em tentar perceber toda uma panóplia de tristes episódios, no que às questões da economia diz respeito, deveria ser um palco de informação esclarecedora aos cidadãos, onde os diversos temas e questões apresentadas, deveriam ser abordadas e discutidas com frontalidade e sem demagogias, citando um ditado popular; “chamando os bois pelos seus nomes”.
Pelo contrário, constatamos que se tem transformado, de programa para programa, numa autêntica telenovela, de enredo em enredo, onde a principal figura, Medina Carreira, conhecedor dos meandros e também ele responsável, enquanto ministro das finanças, antes e já depois do 25 de Abril, da situação a que conduziram as finanças e economia do país, se apresenta como se fosse a única pessoa neste país, com inteligência e sabedoria.
Por triste sina a nossa, a inteligência e esperteza com que os deuses dotaram este espécime rara, pouco ou nada sobrou para nós, tal a petulância com que este senhor, perante as câmaras de televisão, rebaixa a inteligência e o saber dos cidadãos.
Chegamos à conclusão que, esta sumidade dos números, para além de ser um ser insensível ao sofrimento das populações mais carenciadas, não passa de mais um entre tantos, a limpar a cara das suas responsabilidades, atirando de uma forma vergonhosa, as culpas para cima daqueles que menos culpa têm da atual situação a que o país chegou, mas que infelizmente, vão ser aqueles a quem a fatura será apresentada.
Quando se pronuncia sobre as diversas vigarices e atropelos do sistema, refere-se sempre aos outros, como se ele, também não tivesse feito parte dos outros, enquanto ministro das finanças, durante o período a que se refere.
No último programa, com todo o descaramento do mundo, faz a seguinte afirmação: “Nunca ninguém foi preso ou condenado por dívidas a credores”, até parece que é verdade, dito com esta espontaneidade, e continua a sua dissecação; “essa conversa do estado dever aos contribuintes, portanto não poder deixar de devolver aos contribuintes, através de reformas, os dinheiros que os mesmos lhe entregaram, para as suas reformas, não vale a pena exigir, porque o Estado não tem dinheiro para pagar”, e continuando o raciocínio desta sumidade; “portanto o Estado se não tem não paga e pronto”.
É chocante, se não ofensivo para a inteligência de qualquer um, este tipo de afirmações, ainda mais vindo da boca de quem vem. Não é que este senhor, confrontando situações idênticas, consegue ter um conceito bicéfalo, ao dar uma interpretação a uma e outra interpretação completamente oposta a outra que, no fim de contas, são no seu todo a mesma coisa? Credores, caro senhor, são credores em todo o lado, razão pela qual, não conseguimos enxergar aonde vai parar a sua esperteza saloia.
Quando se refere aos compromissos do Estado para com os cidadãos, a dívida só será paga se houver dinheiro, se não houver não se paga e os cidadãos que se amanhem como puderem, vão roubar, matem-se, façam o que entenderem. Por outro lado, quando os credores são os magnatas capitalistas do FMI, BCE e outros que tal, o seu raciocínio sofre uma invejável inversão, porque para pagar os compromissos com os senhores da tróica, a conversa muda de figura, os direitos dos cidadãos deixam de existir e são completamente trucidados, porque é preciso é pagar, seja de que maneira for, mesmo que para isso se ponha a maioria da população na miséria.
Não caro senhor, nós não somos assim tão burros e muito menos estúpidos, como pretende fazer-nos passar, nós sabemos quem somos, o que queremos e para onde vamos, e uma coisa sabemos nós, não é para onde o senhor e os senhores como você nos pretendem atirar.
Costuma dizer o povo, que “quem com fogo mata, com fogo morre”, pois será com fogo que iremos retribuir.
Empenhou-se o país, através de fundos que serviram para encher os cofres de uma série de oportunistas, que na refrega de uma revolução onde as liberdades e os direitos foram repostos, de mansinho, pé-ante-pé, foram metendo a mão até romper o fundo do saco, e agora que não têm remendo para tapar o buraco, estão bem acomodados de barriga cheia, os parvalhões que paguem a crise.
O problema deste país, não são os trabalhadores, os reformados e os pensionistas, o problema está neste e noutros governos recheados de suprassumos, gente de elite, que saindo encapotados da sombra dos partidos, julgam-se superiores e mentalmente dotados, ao invés da avaliação que fazem das pessoas, do povo em geral, que para eles não têm inteligência, cultura ou saber.
Esses suprassumos consideram-se seres superiores, pertencentes a uma casta privilegiada, num patamar de sabedoria, inacessível para aqueles a quem subjugam, e exploram, como se fossemos atrasados mentais, que mesmo que se esforcem nunca lá conseguirão chegar.
Alguns, como Medina Carreira, e são bastantes para nossa desgraça, até parece que têm convulsões, tal o horror de ter de partilhar a vida com o povo, que entendem ser “gente sem ponta por onde se lhe pegue”, termo por ele muito utilizado.
Face a esta lamentável postura de sobranceria e falta de valores de cidadania, estes iluminados, esta raça de privilegiados, volta não volta, lá deixam escapar entre as portas do cinismo, o que na realidade pensam do povo, mas que por se acharem superiores, ainda conseguem reprimir durante uns tempos, mas que mais tarde ou mais cedo, não aguentam e por uma vez dizem o que sentem.
Esta casta de gente, sente um enorme desdém e repulsa pelo povo que os enfrenta e confronta com a triste realidade, porque acham que os seus cérebros pensam mais rápido que todos nós, acusando-nos de preguiçosos, achando até que, o desemprego poderia ser uma excelente oportunidade para o normal cidadão mudar de vida, como afirmou outro iluminado, António Borges e bem mais recentemente outra sumidade, Belmiro de Azevedo que afirmou, "Não sei porque não deve haver economia baseada em mão de obra barata. Senão não há emprego para ninguém.", Pergunto eu: porque não, baixar os lucros?
Usando um termo popular, “pelo andar da carroça”, qualquer dia serão mais os burros, que as mentes privilegiadas, tal o crescendo de contestação de alguns que, até há bem pouco tempo, também eles se achavam génios, Manuela Ferreira Leite, Carlos Abreu Amorim, Bagão Félix, Ferreira do Amaral, Pacheco Pereira, entre outros, mas que se pode vir a transformar no mais inacreditável dos milagres, a transformação de génios em burros.
Vamos acreditar que perante tão grande afronta ao povo, possamos assistir ao completo repúdio e rejeição, desta elite insidiosa e vil, pelos cidadãos enganados e explorados deste país.

João Carlos Soares
Barreiro, 14 de Maio de 2013

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