Como tudo na vida, não será a política, como um todo, mas
parte dela que poderá mudar e, proporcionar condições sustentadas pela
democracia, tendo por suporte as pessoas, e onde a esquerda possui a sua maior
implantação.
Da maior relevância para o cenário político nacional,
ressaltam as diversas formas de estar e fazer política, a política dos cidadãos,
a política dos políticos e a política dos técnicos, tecnocratas comprometidos
com os grandes grupos financeiros, mais preocupados numa estratégia de ajuste e
flexibilização do mercado de trabalho, unicamente sintonizados com os números e
o lucro dos especuladores, onde a ausência de estratégia, faz esquecer o
sentido principal e o verdadeiro lugar das reformas sociais na evolução e
transformação da sociedade.
Por outro lado, a política dos políticos, usando da
habilidade das palavras, com o talento que se lhes reconhece, também perfilha
do conceito de que não se pode fazer política sem vítimas, conduzindo
estratégias de ocasião dentro dos ciclos eleitorais, quase sempre com o
objectivo e orientada por uma ambição desmedida de enriquecimento fácil, não
contribuindo assim para o bem comum, e sendo alvo de repulsa e indignação pelos
seus eleitores.
Já a política dos cidadãos, orientada fundamentalmente para a
conquista e ou consolidação do bem comum valoriza, o diálogo entre as
instituições, o consenso e a vontade do colectivo, assumindo os partidos um
destaque especial, congregando vontades e dando voz activa na participação dos
cidadãos nas decisões governamentais.
Com a globalização, os países de orientação democrática, têm
sido, flagelados de forma implacável pelo crescendo de um neoliberalismo
conservador, transformando os governantes em meros executantes de procedimentos
resultantes de decisões externas, que em nada respeitam nem dignificam programas
sufragados, documento único que delega nesses governantes a vontade de um povo
e que lhes atribui a legitimidade de conduzir o futuro de uma nação.
É mais que notória, a necessidade de uma mudança no
comportamento dos nossos governantes, que não podem nem devem estar limitados a
simples planos de administração, encomendados por entidades, como a que agora
estamos submetidos, mas que cumpram e se comprometam com os cidadãos eleitores,
que neles confiaram.
Os tempos modernos, moldaram sociedades com uma ideia e
cultura de cidadania, não podendo essa cidadania ser travada, através de
violência institucional, plena de injustiça e opressão, fazendo com que
milhares de famílias passem por enormes dificuldades e algumas já no limiar da
pobreza, deixando de contar com o apoio da comunidade política consistente, num
processo irreversível de destruição do estado social.
É preciso criar meios para que as expectativas em relação a
esses direitos estejam efectivamente acessíveis e concretizáveis, não bastando
apenas mudar essas expectativas durante os processos de campanha eleitoral, mas
essencialmente na necessidade de novos rumos, que se orientem essencialmente
nas transformações socioeconómicas e numa nova organização social.
Para que essa transformação possa vir a acontecer e
consolidar, é necessário que a cidadania seja vista, não como pretenderam que
fosse, nos termos clássicos ao longo da história, o Território, o Estado-nação,
a Soberania Nacional, mas sim na realidade em torno da expectativa e esperança
da conquista dos direitos dos cidadãos, tendo como referência uma estratégia
baseada na democracia e no desenvolvimento de todos.
É na forma e no acto de governar, que a política se destaca e
torna importante para os cidadãos. Governar não é só fazer ou tomar decisões,
esquecendo promessas, porque é de todo impossível separar, em democracia, a
estratégia apresentada aos cidadãos eleitores e o modo e forma de os conduzir
em sociedade.
Para um governante consciente e preocupado, as leis não devem
ser um argumento de permanente contestação, mas uma interacção das regras de
funcionamento do Estado, com o colectivo na defesa dos interesses de todos. À
partida, ser um bom governante, passa por colocar no seu desempenho, uma série
de características, como ordenar, coordenar, dirigir, comandar, liderar,
dominar, executar, empreender, administrar, planear, representar, legislar,
interagir e mobilizar.
Governante que não possua, estas ou algumas destas
características fundamentais, não terá legitimidade nem moral, para representar
e dar aos eleitores/cidadãos a garantia de prossecução da sua própria vontade,
precisando para isso de se adaptar a alguns valores que, no essencial, os
dignifiquem como governantes, numa luta constante e esforço, onde se exige
decência, consciência colectiva, para podermos aquilatar o que nos move a ficar
juntos, nos momentos de maiores dificuldades.
A luta e o esforço dos cidadãos, ao longo das últimas
décadas, dispensados a favor de um país democrático, livre de ditaduras, sejam
elas quais forem, não pode, nem deve acobardar-se nem conformar, com alguma
apatia e descrença da população, face ao jogo medíocre a que assistem dos seus
representantes políticos, autênticos lacaios dos grupos económicos instalados, sem
iniciativa própria e cada vez mais preocupados com os seus próprios interesses.
A democracia, um sistema de governo do povo, assente na sua
vontade e representada pelos partidos, deve ter a preocupação em não criar desequilíbrios
entre a representação e a participação, num jogo de poderes e contrapoderes,
permitindo a intervenção de todos, de forma consciente e orientada por um
desígnio colectivo.
Recordando um pouco a história nos 40 anos de vivência
democrática, apercebemo-nos que, sensivelmente há pouco mais de duas décadas,
esta democracia representativa implantada com o 25 de Abril de 1974, sofreu uma
evolução no quadro político, com alguma esquerda a abandonar a cartilha do
socialismo democrático, convergindo numa nova filosofia, a que os políticos e
observadores, convencionaram chamar de “3ª Via”, epíteto que acabou por derivar
para o neologismo de “social-democracia”, com o objectivo descarado de se
criarem novas identidades no âmbito social na estrutura da sociedade.
A fúria reformadora neoliberal, vai obrigar a que a esquerda
se entenda e diferencie por completo das actuais medidas impostas ao país, por
esta maioria PSD/CDS, a mando da Troika, tomando as rédeas nas suas mãos, não
se deixando consumir com a globalização, apresentando-se como uma alternativa
pautada por um programa de recuperação da economia, através de ferramentas de
gestão assertivas, com ânimo e consciência de uma realidade presente,
procurando estimular os cidadãos a uma participação por inclusão e não, como
até agora, por exclusão, na solução dos problemas, compartilhando novos
caminhos com a sociedade, para mudar de facto este caminho de destruição e
empobrecimento da população, a que estão a sujeitar os Portugueses.
João Carlos Soares
Barreiro, 15 de Julho de 2013
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