quinta-feira, julho 25, 2013

Portugal, um País Humilhado

Depois de mais um ato de perversão dos nossos governantes, Governo e Presidente da República, as futuras eleições, a partir de agora, irão decorrer num cenário com características, no mínimo estranhas, onde se misturam gostos, sabores e estilos diferentes, no mesmo prato, coligação aqui, coligação acolá, consoante a vantagem de ocasião e a diversidade nos acordos, não regateando internamente, os partidos, os custos dessa aventura política, para alcançar os fins desejados, o poder.
Não lhes interessa as críticas ou elações que daí se retirem, porque o fundamental é vencer, e assim junta-se o útil ao agradável, porque vergonha, para eles, é perder. Mas vergonha é muito mais do que a contabilidade dos votos, vergonha é sonegar a verdade aos cidadãos eleitores, vergonha é criar expectativas, para depois abrir mão das convicções, valores e ideias pela conveniência dos resultados, transformando aquilo que deveriam ser programas, num misto de tendências indefinidas, num arsenal de promessas inconsequentes.
Sendo o nosso processo eleitoral, um ato de cidadania à luz da Constituição, peca o mesmo por não ter, também à luz dessa Constituição, normas e formas de fiscalização efetivas, que penalizem, punam e inibam constitucionalmente os prevaricadores. Um ato de cidadania, sem consequências, não serve os princípios da Democracia, nem a confiança dos cidadãos nas instituições. Acima de tudo, é urgente consubstanciar a moralização do processo eleitoral, para que ele seja a concretização de uma realidade indispensável de pressão da sociedade, sobre os mecanismos institucionais, para limitar e impedir a audácia dos impostores.
O Tribunal Constitucional e o Tribunal de Contas seriam, as ferramentas da Democracia, numa sociedade verdadeiramente justa, funcionando como elemento garante do cumprimento e respeito pela verdade eleitoral, tendo como interlocutores, o Parlamento e o Presidente da República, sobre os quais recairia a responsabilidade de dar provimento às avaliações dessas duas instituições, protegendo assim, a sociedade e o País, das artimanhas porventura cometidas.
Perante a suspeita de ilícitos, ou incumprimentos, deverá existir por parte das instituições, o maior empenho para assegurar a efetividade das regras e procedimentos dos eleitos, impedindo assim as manobras engendradas por espertalhões, protegendo a sociedade contra os que desbaratam o erário público, em proveito próprio, vítima de representantes sem escrúpulos éticos, que comprometem o exercício pleno da representação popular, violando os princípios e valores que devem nortear a gestão de qualquer governante.
Muitos desses candidatos, em vez de estarem a disputar um processo eleitoral, valendo-se de promessas mirabolantes e defendidos por interesses das abastardadas oligarquias políticas que proliferam pelo país, deveriam, há muito tempo, estar atrás das grades, e não, aparecerem orgulhosamente travestidos de candidatos, perante a condescendência de uma Lei Eleitoral e Constituição que não protege os seus cidadãos desses meliantes.
De há longa data somos confrontados com situações bizarras, assistindo a atos de corrupção de diversos governantes, sem consequências para os infratores, face à surdez da justiça, perante os factos constatados e reivindicação da sociedade.
Defronte esta situação de incapacidade da Constituição, para defender a sua própria moralidade, a atitude da justiça, tem sido cruzar os braços, perante o incumprimento e ética, dos governantes, no exercício da atividade pública, para a qual foram mandatados, refugiando-se debaixo da capa do mandato, como forma de se protegerem do braço da justiça.
O Tribunal Constitucional, como garante do cumprimento da Constituição, ele próprio é desrespeitado, pelos governantes. A Constituição, não é mais do que um conjunto de regras que funcionam como uma cartilha de princípios e valores, a cumprir pelos cidadãos, sem exceção, sejam eles desconhecidos cidadãos ou com responsabilidades de governação. Quando alguém infringe essas regras, espera-se que pague pela infração, seja ele quem for, nos termos da lei, pelo ilícito.
Quando a Constituição foi feita, foi para que todos a cumprissem, de forma absoluta e indiscriminadamente. Na razão de que o texto Constitucional é achincalhado, e por quem mais e melhor o deveria respeitar, estamos perante um País sem Lei, em que a vontade pessoal de alguns, se sobrepõe aos efetivos interesses de muitos, realidade triste que só conhecemos de regimes onde vingou a ditadura.

João Carlos Soares
Barreiro, 23 de Julho de 2013

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