quarta-feira, julho 10, 2013

Um Pais, Politica, Financeira e Economicamente Dependente!

Colapso após colapso, Portugal vive debaixo de controvérsia e esquizofrenia política, sobre o crescendo da inflação e a dependência ao capitalismo de engenharia financeiro, convivendo de contradição em contradição, em vez de tentar encontrar soluções que pudessem no futuro vir a viabilizar e desenvolver a nossa economia.
A recessão em que toda a Europa se encontra mergulhada, e os empréstimos que têm vindo a ser concedidos a Portugal, ao longo de várias décadas, em vez de terem sido empregues no desenvolvimento e implementação de uma política económica de sustentabilidade, baseada na capacidade de actualização do nosso mercado interno, através da modernização das nossas empresas de produção e transformação, optou-se por uma política de patos bravos, enterrando fortunas em obras megalómanas, que depois de terminadas, são entregues ao privado, acabando por deixar o nosso país completamente endividado e sem capacidade para corresponder às necessidades internas fundamentais, e impedidos de honrar os compromissos financeiros com os seus credores, colocando e pondo em causa a nossa própria soberania, enquanto Estado.
Se não estivéssemos comprometidos monetariamente, a solução seria fácil, emitia-se mais dinheiro, o que não acontece infelizmente para mal dos nossos pecados, e como a riqueza natural do país, pescas, agricultura, metalomecânica, construção naval e marinha mercante, transformação e produção de aço, indústria em geral, foram completamente aniquiladas, por pressão dos parceiros da União Europeia, a troco de fundos, acaba consequentemente no aumento dos bens essenciais de consumo e serviços, face à necessidade de importação e quebra de salários, direitos consignados pela Constituição e níveis de desemprego, nunca antes vistos.
Toda esta crise inflacionária se deve a factores que estão intimamente ligados à existência de dívidas. O endividamento do Estado, vem-se reportando há já algumas décadas, vindo-se a agravar nos últimos anos, face ao agravamento das condições da própria economia mundial.
As engenharias financeiras, implementadas pela banca e apoiadas por sucessivos governos, criaram a ideia de um país supostamente desenvolvido, vivendo acima das suas capacidades, com um produto interno bruto deficitário, numa economia de casino, onde os especuladores alimentaram o enriqueceram uma clientela internacional elitista, à custa do endividamento e desmantelamento do aparelho do Estado, levando ao descalabro das contas públicas.
Apesar de todas as circunstâncias de dimensões trágicas, para a Europa, os países do eixo do norte, fortemente industrializados, alinharam-se facilmente no mercado internacional, com as restantes potências mundiais, como a China, Estados-Unidos e a Rússia. Já os países do sul, como Portugal, Espanha, Grécia, Chipre, Irlanda, França e Itália, para que fosse possível tornar as suas economias relativamente competitivas em relação aos seus concorrentes comerciais, necessitaram de contrair empréstimos.
Os sucessivos governos, desde o 25 de Abril de 1974, até agora, deveriam ter acautelado o destino desses empréstimos, controlando e fiscalizando de forma transparente os investimentos do Estado, no sentido de protegerem a economia, promovendo o desenvolvimento autónomo e gradual do Estado, permitindo de igual modo o investimento privado, por forma a serem injectados recursos para que o país pudesse recuperar os anos de atraso e isolamento, a que fora dotado por quarenta anos de ditadura fascista.
Esta opção requeria projectos económicos de investimento, muito bem elaborados que, apesar de resultarem de empréstimos contraídos, deveriam ter levado em conta as oscilações do mercado internacional e a tentação sempre presente da corrupção política, evitando assim um modelo de desenvolvimento que, agora, se confirma ter sido gerado em bases distorcidas e artificiais.
Pelo contrário, o que temos vindo a assistir, tem sido a um “fartar vilanagem”, pagando juros de dívida com mais dívida, a qual se configura já a níveis insuportáveis e incomportáveis para a saúde financeira do nosso país.
Com todos estes erros e desmandos, constata-se que a economia e os seus agentes não dão sinais de amadurecimento, a inflação sobe dia-após-dia, transformando-se qual fera indomável, ultrapassando tudo o que se possa imaginar, os números de falências e desemprego são assustadores, sem que os responsáveis assumam os seus erros, e respondam pelas suas consequências.
O sistema capitalista mundial, na sua génese está em crise e já não é auto-sustentável, as grandes conjunturas financeiras globais estão interligadas, num mercado de transacções estimulado pelo desenvolvimento das novas tecnologias em tempo real, num processo de mundialização, que ameaça as economias dos países menos desenvolvidos e dependentes, numa crise que sendo conjuntural, também é estrutural, com consequências sociais imprevisíveis.
Para resolverem a crise que os afecta, os países com uma economia dominante, e os grandes centros financeiros, através dos seus órgãos e instituições reguladoras, como o FMI, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio, tentam subjugar, a qualquer custo, os países mais dependentes e hipotecados, como Portugal, Grécia e Chipre, através da imposição de medidas e políticas neoliberais, em total afronta e desrespeitando a soberania desses países, interferindo em áreas estratégicas, condicionando os investimentos estrangeiros, nesses países, controlando o acesso aos mercados, à propriedade intelectual, legalização de transgénicos, tudo em nome do desenvolvimento económico, com custos sociais incomensuráveis dos cidadãos.
Com a desculpa de equilibrar as finanças e reduzir a pobreza, impõem normas austeras para que os países cumpram com a obrigação de ajustar as suas economias, o que leva forçosamente a políticas contrárias ao Estado Social, com as consequências já por nós conhecidas, com cortes significativos nas áreas de apoio social e aumento de tributação fiscal, a abertura do comércio e do sistema financeiro de cada país, desestruturando as empresas nacionais sobreviventes, e a consequente redução de postos de trabalho, para assim cumprirem com o envio de remessas para honrar o pagamento dos altos juros da dívida, prometidos por essas instituições aos investidores internacionais.
Através da privatização de todo o aparelho do Estado, que ainda é rentável, com a venda indiscriminada das empresas estatais e nacionais ao capital internacional privado, acaba destruindo o pouco da independência em sectores estratégicos da economia que os países ainda possuíam.
No fim de tudo isto, resume-se a uma simples questão, que se chama sobrevivência. A relação entre a dívida externa e as reformas, levam as economias dos países intervencionados, a se sujeitarem a todo o tipo de obrigações financeiras, numa estratégia de empobrecimento dos cidadãos, com uma engenharia de reescalonamento da dívida, adiando as medidas que poderiam contribuir para o desenvolvimento desses países, a troco da obrigatoriedade no pagamento do juros dessa dívida, com dinheiro novo, que é emprestado aos países em dificuldades, para pagamento dos juros de débitos anteriores.
Para que este ciclo viciado se complete e concretize, para que esses países possam receber os novos empréstimos, que irão servir para pagar esses juros, obrigam-se e submetem-se às condições de reforma estruturais e prazos de pagamento impostos, pelas comissões de avaliação, aumentando assim o enorme fosso, que já hoje existe, entre os países pobres e os países ricos, sem nunca conseguirem saldar a dívida, numa disputa tecnológica de mercados onde a concentração de capital provoca, cada vez mais e em definitivo, desigualdades imensas entre os países, regiões e classes.

João Carlos Soares
Barreiro, 09 de Julho de 2013

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