segunda-feira, julho 01, 2013

Passados 50 Anos de Um Sonho Chamado Europa



Passados 50 anos de um sonho, da necessidade de se construir uma Europa unida, renascida das cinzas da guerra, é com mágoa que assistimos ao desmoronar da esperança de muitos, para benefício de uns poucos, numa Europa enfraquecida pela ganância e oportunismo de lobbies, num autêntico pesadelo sem fim, transformando aquilo que se pretendia como uma comunidade de estados unidos, num autêntico estado de orfandade deste velho continente, que é a Europa.
Sentimos que a Europa como um sonho, uma ideia, um projeto, caminha a passos largos para o abismo, de nada valendo os apelos à consciência dos dirigentes, para que não se apague o sonho, que os nossos pais colocaram de pé, e nos permitiram viver em paz, com prosperidade e em Democracia, mas que se esfuma perante os nossos olhos, uma vez mais, no meio da indiferença, cinismo e hipocrisia dos países mais desenvolvidos.
Este sonho, tornado realidade, para a paz e integração de muitas democracias, tem sido sujeito a um sem número de hemorragias internas, começando por um dos seus pilares, a Grécia, a que se seguiram a Irlanda, Portugal, Espanha, Itália e Chipre, sujeitos a um combate contra o empobrecimento e vassalagem, de tanto castigados e estigmatizados, a partir de planos de rigor e austeridade e despojados dos seus princípios de soberania.
Esta enfermidade que envolve neste momento, o ideal europeu, coloca na miséria, de forma dramática, a moral, a ética e solidariedade que os europeus estimularam pelo mundo. De leste a oeste, de norte a sul, a Europa mete água por todos os lados, numa ascensão de populismo, chauvinismo e ideologias de exclusão e ódio, precisamente com a intenção de marginalizar e envergonhar os mais desfavorecidos, impedindo-os de levantar a cabeça, face à chamada crise do euro, moeda única no espaço europeu (exceção à Suécia, Polónia e Reino Unido), que flutua ao sabor da economia dos países, nos seus recursos, e num sistema fiscal pesado e convergente.
Aquilo que outrora ficou conhecido como “limpeza étnica”, podemos dizer hoje, que está em curso uma “limpeza económica”, manifestamente premeditada e implacável, por um grupo de federalistas, ao serviço dos grandes grupos económicos, nomeado por Durão Barroso em 2008, no início do período recessivo que se espalhou por toda a europa, que adotaram medidas e políticas federalistas de autêntica loucura, regressão social e perda de direitos consignados pelas constituições de cada país, precariedade, desemprego galopante e miséria, sem qualquer unidade política, aguardando a todo o momento o início de qualquer conflito ou crise, para fazer desaparecer o euro, a única referência que ainda mantém os países da comunidade unidos.
Para que este cenário não se venha a verificar, torna-se urgente que a Europa dê um passo decisivo em frente, na direção da integração política, no respeito pela soberania de cada Estado, na tomada de medidas adequadas e não simples maquilhagem, como tem acontecido até agora, ou então sujeita-se a desaparecer de um dia para outro, se continuarem a insistir em truques de mágica de alguns, pequenos acordos de outros, fundos de solidariedade por aqui, recapitalização de bancos por ali, que servirão unicamente para distrair as populações e adiar o fim agonizante dos países em situação difícil.
A Europa, tem o dever e a obrigação de mostrar ao mundo a sua capacidade de nunca perder a capacidade crítica em relação ao comportamento dos Estados, no entanto, face às políticas neoliberais implementadas pelos social-democratas e socialistas de cócoras diante de grandes corporações, agitados por níveis de corrupção dignos de uma comédia, não se avista por onde possa aparecer alguém capaz de encarnar o grande sonho europeu, que um dia, os que o fomentaram, desejariam ver concretizado.
Está mais que provado, que as instituições europeias não se encontram à altura das suas responsabilidades. Cada vez mais se sente a necessidade que os cidadãos se pronunciem e exprimam, através do Parlamento, que irão eleger em Maio de 2014, e de uma Constituição digna desse nome. A Comissão deverá assumir a forma de um governo eleito pelos povos e prestar contas aos eurodeputados, que os reportarão aos seus eleitores locais.
Esta Comissão, liderada por Durão Barroso e pelo seu grupo neoliberal, fortemente criticada pelo FMI e levada ao colo pela Troika, deveria ser demitida pelos erros que cometeu e que, tardiamente veio a reconhecer, semeando a discórdia entre os diversos estados membros, esturrando dinheiro dos contribuintes europeus e precipitando as economias de diversos países para o caos, como foi o caso de Portugal. Aliás, não será admiração para os mais atentos, se considerarmos o desempenho de Barroso em Portugal, enquanto primeiro-ministro, tal o valor da dívida e dificuldades em que deixou o País, antes de assumir a Presidência da União Europeia.
Não podemos deixar em claro, o miserável desempenho de líderes como Barroso, que após terminar o seu mandato, ficou tristemente célebre, através da frase “Um País de Tanga”. Lá diz o ditado: “Se não consegues governar a tua casa, não serás capaz de governar a dos outros”. Como consequência das experiências a que submeteram alguns países, como se de cobaias se tratassem, conduziram esses países, onde se incluem a Grécia, Portugal, e Chipre, à catástrofe económico-social, não esquecendo que foram as políticas implementadas por políticos sem caráter nem sentido patriótico, que conduziram o sonho europeu a uma realidade de contornos trágicos, imprevisíveis e sem futuro.
A União Europeia já não o é, pelo menos tal como os seus mentores previam que viesse a ser. Neste momento a questão que se coloca, não é saber o que nos espera desta união, mas o motivo pelo qual a Europa, que tantos sonhos alimentaram, já não existir. A Europa livre e solidária, já não existe e os responsáveis políticos, por todo este descalabro, nem coragem têm para o assumir.
Há alguns anos atrás, ainda se mantinha o objetivo, dos países que aderiram à União Europeia, em poderem vir a fazer parte dos chamados países ricos, através de uma convergência de fatores, entre eles a solidariedade no seio da Comunidade, situação contrariada desde já, face à situação de países como a Grécia, Portugal e Chipre, que pelas previsões económicas para a próxima década, confirmam o empobrecimento desses países, colocando-os praticamente numa situação muito pior do que aquela que tinham quando entraram, sujeitos que foram a um processo de desmantelamento de toda a sua economia, por razões de competitividade e como condição indispensável para a sua aceitação, no seio da Instituição e acesso à moeda única, o €EURO.
O grande erro, desde que se deu início à unificação da Europa, residiu no fato de se criar primeiro a moeda única, quando se deveria ter caminhado, para a implementação de políticas comuns. Não tendo sido esse o caminho escolhido, os países menos evoluídos tecnológica e industrialmente, ficaram cada vez mais dependentes e reféns da zona euro.
Como sair da crise? Se observarmos atentamente para todo o percurso europeu, perceberemos que alguns países estão em crise e outros não, ou são menos afetados por ela. Por outro lado, em alguns casos, como a Espanha, mesmo com um valor de taxa de desemprego elevadíssimo, manteve-se soberana nas suas decisões, e até com alguns efeitos benéficos sobre determinadas práticas. Segundo este ponto de vista, o principal problema de qualquer política é o de criar ganhadores e perdedores, mas isso é coisa que os políticos nunca nos irão dizer. Não se trata tanto do problema em si, pois sempre houve perdedores e ganhadores e a questão reside em saber como dar compensações a uns e explicar aos outros que é do seu interesse pôr em prática esta ou aquela política.
João Carlos Soares
Barreiro, 01 de Julho de 2013

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