Falarmos em
mobilização social, não pode ter somente como objectivo, o exercer de um
direito à contestação ou manifestação pública, com o maior ou menor ajuntamento
de pessoas, em espaços públicos, mas sim a capacidade que uma sociedade tem, de
opinar e intervir, na busca de resultados com objectivos bem definidos e que
seja desejado por todos.
O objectivo
de convocar e mobilizar vontades, na procura de um projecto comum, deve e tem
que ser compartilhado num processo de mobilização social participativo e de
total liberdade.
A decisão de
participar em movimentos cívicos, sendo uma opção a que cada um diz respeito,
depende essencialmente da vontade das pessoas, ou da capacidade que sentem,
para provocar e construir essas mudanças.
Para se
atingir um objectivo e propósito comum em sociedade, pressupõe a existência de
uma convicção colectiva da importância do seu contributo e sentido público, do
que é relevante e convém à maioria.
Perante uma crescente onda de corrupção
nos meios políticos, começa a existir um certo movimento contestatário e
repulsivo do desempenho dos partidos e dos seus representantes, nesta
democracia representativa em que vivemos. Nesse contexto, torna-se imperativo salvaguardar,
de uma forma clara e inequívoca, que evidentemente nem todos são iguais e que
também existe gente honesta na sua forma de estar e gerir a coisa pública, caso
contrário, não se auguraria nada de bom e daria uma imagem desgraçada, doentia
e falida do sistema democrático.
Afinal de contas, desconfiar dos políticos,
de alguma forma é uma expressão de saúde democrática, porque todos quantos se
manifestam, o fazem contra o que de mal vai acontecendo, e não contra o que de
bom se retira dos seus actos e procedimentos.
Por isso mesmo, não pode ser visto nenhum
mal no direito à manifestação levadas a cabo na rua, porque a demonstração de
repúdio e contestação às terríveis medidas de austeridade impostas, representam
e significam o resgate que a sociedade exige pelos seus direitos, cansados que
estão de uma sociedade de privilégios só para alguns.
Essa demonstração
cívica e utilidade numa sociedade em convulsão, terá que estar direccionada na
construção de um projecto de futuro, e não como um único propósito de
transitoriedade, convertendo-se em nada mais do que uma acção desgarrada de
campanha e sim num processo de mobilização, de dedicação contínua e com
consistência para que produza resultados no quotidiano de cada um de nós.
O sentimento
compartilhado numa mobilização social, como um acto de comunicação de defesa de
interesses comuns, não pode nem deve ser confundido como uma mera acção
propagandística ou de divulgação de arbitrariedades, mas terá que ter um
sentido mais amplo e visionário de estabilidade e mobilização, na acção,
decisão e propósitos.
Toda a
sequência e trato, na vida das populações, têm que ser construídos com muita
dedicação e sacrifício, não como um facto natural, porque natural é a nossa
tendência a viver em sociedade, na certeza de que só assim a mudança será
possível.
Os sistemas
democráticos foram construídos a partir do momento em que se descobriu que a
ordem social não era obra do divino, mas construído pelos homens, que souberam
conjecturar a possibilidade de se construir uma sociedade, cujo destino teria
que ser definido por todos sem excepção quantos nela participavam.
Essa
realidade só será possível e concretizável, a partir do momento em que as
pessoas acreditem que a construção de uma sociedade democrática justa,
dependerá unicamente da sua própria vontade e escolhas.
A
participação cívica ou não, de cada um, será o factor principal para a formação
e consolidação de uma nova ordem democrática. Torna-se necessário assumirmos o
nosso destino, avocando com responsabilidade e sem fatalismos ou subserviência,
a formação de uma nova mentalidade na sociedade civil, que se capacite a si
própria que poderá criar uma nova ordem social, capaz de compreender e
erradicar os males de que actualmente sofremos, como a hipocrisia, a corrupção
e a falta de solidariedade.
O conflito e
confronto de ideias são essenciais e saudáveis, na convivência democrática,
onde não devem existir inimigos, mas opositores, que pensando de forma
diferente procuram soluções e objectivos com formatos diferentes, com
interesses distintos, mas com os quais se poderá e deverá discutir e
consensualizar, no objectivo de se atingirem metas comuns, colocando-se acima
dos interesses próprios o interesse da Pátria, numa sociedade capaz de criar e
aceitar regras para a diminuição dos conflitos e desigualdades.
Essa
convivência democrática é fundamental para uma sociedade equilibrada. A
democracia não é um Partido Político, mas deverá ser, acima de tudo, uma
decisão de toda a população, fundamentando o seu comportamento na aceitação do
outro como igual em direitos e oportunidades, numa constante aprendizagem de
costumes, maior equidade social, económica, política e cultural.
15 de Dezembro de 2012
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