domingo, dezembro 16, 2012

A luta não deve ser contra os políticos, mas sim contra os privilegiados do sistema



Falarmos em mobilização social, não pode ter somente como objectivo, o exercer de um direito à contestação ou manifestação pública, com o maior ou menor ajuntamento de pessoas, em espaços públicos, mas sim a capacidade que uma sociedade tem, de opinar e intervir, na busca de resultados com objectivos bem definidos e que seja desejado por todos.
O objectivo de convocar e mobilizar vontades, na procura de um projecto comum, deve e tem que ser compartilhado num processo de mobilização social participativo e de total liberdade.
A decisão de participar em movimentos cívicos, sendo uma opção a que cada um diz respeito, depende essencialmente da vontade das pessoas, ou da capacidade que sentem, para provocar e construir essas mudanças.
Para se atingir um objectivo e propósito comum em sociedade, pressupõe a existência de uma convicção colectiva da importância do seu contributo e sentido público, do que é relevante e convém à maioria.
Perante uma crescente onda de corrupção nos meios políticos, começa a existir um certo movimento contestatário e repulsivo do desempenho dos partidos e dos seus representantes, nesta democracia representativa em que vivemos. Nesse contexto, torna-se imperativo salvaguardar, de uma forma clara e inequívoca, que evidentemente nem todos são iguais e que também existe gente honesta na sua forma de estar e gerir a coisa pública, caso contrário, não se auguraria nada de bom e daria uma imagem desgraçada, doentia e falida do sistema democrático.
Afinal de contas, desconfiar dos políticos, de alguma forma é uma expressão de saúde democrática, porque todos quantos se manifestam, o fazem contra o que de mal vai acontecendo, e não contra o que de bom se retira dos seus actos e procedimentos.
Por isso mesmo, não pode ser visto nenhum mal no direito à manifestação levadas a cabo na rua, porque a demonstração de repúdio e contestação às terríveis medidas de austeridade impostas, representam e significam o resgate que a sociedade exige pelos seus direitos, cansados que estão de uma sociedade de privilégios só para alguns.
Essa demonstração cívica e utilidade numa sociedade em convulsão, terá que estar direccionada na construção de um projecto de futuro, e não como um único propósito de transitoriedade, convertendo-se em nada mais do que uma acção desgarrada de campanha e sim num processo de mobilização, de dedicação contínua e com consistência para que produza resultados no quotidiano de cada um de nós.
O sentimento compartilhado numa mobilização social, como um acto de comunicação de defesa de interesses comuns, não pode nem deve ser confundido como uma mera acção propagandística ou de divulgação de arbitrariedades, mas terá que ter um sentido mais amplo e visionário de estabilidade e mobilização, na acção, decisão e propósitos.
Toda a sequência e trato, na vida das populações, têm que ser construídos com muita dedicação e sacrifício, não como um facto natural, porque natural é a nossa tendência a viver em sociedade, na certeza de que só assim a mudança será possível.
Os sistemas democráticos foram construídos a partir do momento em que se descobriu que a ordem social não era obra do divino, mas construído pelos homens, que souberam conjecturar a possibilidade de se construir uma sociedade, cujo destino teria que ser definido por todos sem excepção quantos nela participavam.
Essa realidade só será possível e concretizável, a partir do momento em que as pessoas acreditem que a construção de uma sociedade democrática justa, dependerá unicamente da sua própria vontade e escolhas.
A participação cívica ou não, de cada um, será o factor principal para a formação e consolidação de uma nova ordem democrática. Torna-se necessário assumirmos o nosso destino, avocando com responsabilidade e sem fatalismos ou subserviência, a formação de uma nova mentalidade na sociedade civil, que se capacite a si própria que poderá criar uma nova ordem social, capaz de compreender e erradicar os males de que actualmente sofremos, como a hipocrisia, a corrupção e a falta de solidariedade.
O conflito e confronto de ideias são essenciais e saudáveis, na convivência democrática, onde não devem existir inimigos, mas opositores, que pensando de forma diferente procuram soluções e objectivos com formatos diferentes, com interesses distintos, mas com os quais se poderá e deverá discutir e consensualizar, no objectivo de se atingirem metas comuns, colocando-se acima dos interesses próprios o interesse da Pátria, numa sociedade capaz de criar e aceitar regras para a diminuição dos conflitos e desigualdades.
Essa convivência democrática é fundamental para uma sociedade equilibrada. A democracia não é um Partido Político, mas deverá ser, acima de tudo, uma decisão de toda a população, fundamentando o seu comportamento na aceitação do outro como igual em direitos e oportunidades, numa constante aprendizagem de costumes, maior equidade social, económica, política e cultural.

João Carlos Soares
15 de Dezembro de 2012

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