sábado, dezembro 01, 2012

A debilidade ideológica do capitalismo





Em consequência das transformações sociais, resultantes das medidas neoliberais impostas pela Troika, desrespeitando a vontade dos cidadãos expressa em programas eleitorais democraticamente sufragados, anuncia-se o fim das ideologias e do Estado, na sua função e responsabilidade social, soberania e identidade nacional, tratando-nos como se de um colonato se tratasse.
Esta atitude imposta aos governos pela nova ordem económica internacional, assenta em conceitos de domínio dos países centrais sobre os periféricos, como acontece neste momento a Portugal, Grécia e Espanha, num raquitismo ideológico neoliberal de regime colonial, onde o padrão ouro e a supressão das fronteiras comerciais, ditam uma conveniência de esquemas nas transações económicas entre as nações.
Estes requisitos impostos pelo neoliberalismo, quer no campo das relações internacionais, quer na condução das políticas das instituições internas desses países e governos, provocam profundas e dramáticas alterações na vida desses países, e em particular, na divisão e condicionamento de trabalho entre o Estado e o mercado, ou na restrição aos poderes dos governos e instituições nacionais.
Este esquema imposto pela Troika, muito diferente da vontade expressa democraticamente nas urnas pelos eleitores nos seus países, através de regras apertadíssimas aos incentivos e castigos impostos ao incumprimento de objetivos, colocam em causa o estado de direito, contrariando inclusive a doutrina e regras do neoliberalismo, numa visão simplista e desumana, caprichosa e economicista de comportamentos, numa demonstração propagandística em nome da estabilidade e consolidação das contas públicas.
Em simultâneo, da exaltação constante das virtudes abstratas dos mercados, à crítica velada e persistente das políticas que conduzem à intervenção social do Estado, considerando-as ruinosas e ineficientes, defendem-se teses e influenciam-se opiniões que para um sistema social ideal, que garanta o bem-estar e a prosperidade das populações, só será possível através da liberalização desses mercados.    
Esta ilusão de virtudes neoliberais, é o ingrediente e a combinação ideal para a institucionalização de uma democracia condicionada e cerceada de valores, que diferenciam as sociedades pós-modernas, em que os processos eleitorais servem simplesmente para alternar o poder de mão em mão, onde o confronto de programas se transforma numa mera farsa e representação teatral, de uma realidade pouco condizente e muito longe da verdade, contando, na maioria das vezes, com a conivência massiva dos meios de comunicação.
Esta atitude plasmada na vontade das maiorias institucionais, no poder, tendem a inverter o conceito tradicional de soberania dos países, onde a conceção dos desígnios e interesses nacionais, se deixam subjugar pelas políticas e expedientes de políticos autoritários, violentando os princípios básicos da democracia, que é a soberania popular, num mercado cada vez mais economicista e global, em detrimento de um verdadeiro estado de direito.
No espaço de influência política, o conceito de patriotismo, tem vindo gradualmente a ser substituído por uma espécie de universalismo pouco esclarecido, onde se tenta diluir as soberanias do Estado naquilo que são as entidades nacionais. O presidencialismo autista, a governabilidade autoritária do Primeiro-ministro e seus comparsas de Governo, apostados na centralização de poderes e interesses, no jogo de partido privilegiando elites, num autêntico desafio dos valores da democracia, como se de um ajuste de contas se tratasse, acentuam e expõem cada vez mais as diferenças na sociedade, com medidas protecionistas, aumentando de forma preocupante a nossa dependência ao investimento estrangeiro.
Em matéria de políticas sociais, a ausência de investimento no aparelho produtivo do país e o subsequente aumento de desemprego, o condicionamento de acesso aos serviços públicos, como os de saúde e educação, as reformas e cortes no sistema de aposentação, e a transferência descarada dos riscos para as famílias, funcionam como um atentado às funções e deveres do Estado e como um elixir de oportunidades aos negócios privados.
Como consequência da globalização e das políticas neoliberais e a sua difusão à escala universal, assistimos a uma maior e constrangedora diferença e desequilíbrio entre os países deficitários, como Portugal, Grécia, Irlanda, Espanha, França, Itália e os mais abastados como a Alemanha, Áustria, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Islândia, Suíça, Noruega, etc.,..
Este desequilíbrio latente na falta de representatividade dos regimes políticos, perante as pressões internacionais, está na base dos fenómenos de concentração do poder económico e político nos países desenvolvidos, resultando na queda dos salários e perda de direitos sociais, face à mobilidade dos mercados e do capital, provocando uma transferência da capacidade produtiva desses países e conduzindo inevitavelmente à precarização dos direitos laborais.
Consequência desta autêntica pilhagem dos valores da democracia, é já notória e sente-se, de modo consciente ou inconsciente, uma revolta e enorme desconfiança dos cidadãos em relação a elites populistas de aparência democrática, que distorcem frequentemente a realidade social, que mostram completo desprezo e se acham imunes à vontade popular, tentando através de uma economia surda às demandas sociais, colocar um fim à democracia eleitoral.
Este consentimento da radicalização política, acarreta um risco enorme à nossa democracia, subjugando-a à manipulação de forças externas, transformando-a quase numa democracia administrada e manipulada através da repressão, num autêntico atentado ao verdadeiro jogo democrático.
Torna-se necessário e urgente, que os governos apostem em estratégias que impulsionem e promovam o investimento estatal, através do controle nacional sobre os nossos recursos estratégicos, regulando o investimento estrangeiro e fortalecendo a capacidade das instituições de segurança social, na resposta à precaridade dos mais desfavorecidos, no combate à fome e à desnutrição, enfermidade e ignorância, em suma, numa luta sem tréguas contra a destruição do Estado Social.
Não nos queremos deixar submeter a um novo protectorado, a que muito orgulhosamente os nossos antepassados renunciaram e derrotaram, faz hoje precisamente 372 anos, por isso não nos sujeitaremos no presente aos interesses bastardos das elites que dominam o país, e devemos estar disponíveis a lutar contra a opressão, a desigualdade e a pobreza.
Exige-se que os dirigentes políticos cumpram com as suas promessas, sufragadas democraticamente, descomprometidos com a oligarquia instalada na Europa, no caminho e com a convicção política de resolução dos problemas, numa atitude de profundo compromisso social.

João Carlos Soares

Barreiro 01 de Dezembro de 2012

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