quarta-feira, dezembro 12, 2012

Corrupção, um facto sem solução à vista



Num país em dificuldades económicas, onde as injustiças sociais colocam uma grande parte da população em precárias condições de sobrevivência, deve merecer da classe política uma verdadeira reflexão, perante as enormes contradições, incoerência entre o sentido do dever e de justiça e o apelo premente dos mais desfavorecidos, na dignidade com que o assunto deve ser tratado, por quem tem responsabilidades no aparelho do Estado.
O sofrimento dos outros deveria ser uma preocupação de todos nós, sentimento de responsabilidade e de consciência moral, na promoção do bem-estar e de justiça na nossa sociedade.
Um país que assente em conceitos de direito e igualdade de oportunidades, deve garantir a todos os cidadãos, sem exceção, que as leis e a sua Constituição, efetivamente proporcionem o mesmo tipo de privilégios, quer sejam ricos ou pobres, sem qualquer tipo de descriminação, sem distorções sociais de comportamento ou insensibilidade social. 
Estas questões devem preocupar e configuram-se de uma enorme perplexidade na vida em sociedade, e devem ser a expressão e resposta objetiva no comportamento e atitude das novas gerações.
Às questões de moralidade em sociedade, deve ser dada resposta objetiva nos comportamentos e atitudes, em relação à ética, sensibilidades, maneiras de pensar, viver e agir em grupo, na dicotomia entre a moral e a economia. 
Prioridade das prioridades deverá ser, a preocupação de todos os agentes políticos, através de ações conjuntas na busca de uma solução equilibrada e objetiva, contra as políticas discricionárias e classistas, que nos pretendem impor.
Não há qualquer dúvida quanto à preocupação crescente nos diversos fóruns, onde não nos cansamos de questionar sobre a moralidade e legitimidade sobre a justiça e a ética, na base da responsabilidade social, no desenvolvimento sustentável, empresarial e de cidadania.
No entanto, ao tentarmos analisar e aprofundar a relação moral e a utopia política, que conduziu gerações e gerações, apercebemo-nos que a moral que tanto valorizamos, só por si, sem respeito efetivo pelo próximo, transformar-se-á numa virtude, sendo usada como trunfo e fazendo jeito a alguns, resvalando quase sempre para a hipocrisia.
O Mundo enfrentará enormes privações e expor-se-á a grandes tragédias, se os líderes e os próprios cidadãos, não alterarem as suas atitudes, hábitos e valores.
Facto comum nas democracias modernas, a corrupção, forma de apropriação de vantagens ou do dinheiro público, é vista como uma falta de caráter, sinal de desonestidade e imoralidade, transformando-se num problema moral e ético para a sociedade.
Sendo um problema inerente à condição humana, a moralidade é apenas uma pequena parte do problema, e que muitas das vezes é tomado pelo todo, mas a corrupção é mais profunda, envolvendo uma infinidade de aspetos, além da moral.
Portanto, condenarmos a corrupção, só por aspetos morais, é uma ilusão, transformando-se num grande engano e que pouco poderá contribuir para o combate a esse flagelo das democracias atuais, pois é esta qualidade humana que faz com que os corruptos continuem a dormir tranquilos e a fazer mais falcatruas, justificando-se em consciência que, toda a gente tem um preço e se não for ele a faze-las outro haverá que estará disponível para tal, como diz o ditado “A ocasião faz o ladrão”. 
A corrupção é algo que faz parte do padrão humano, mas a racionalidade poderá criar soluções hábeis, de forma a prevenir e acautelar essa forma de conduta, a partir do momento que temos conhecimento dessas práticas, e que a corrupção não se enquadra nas matrizes nem pode ser considerado só um problema moral, e que se manifesta como uma espécie de efeito colateral das democracias, mas que pode e deve ser combatido.
Para prevenir e acautelar a corrupção em relação às contas públicas, torna-se necessário e urgente criar mecanismos eficientes e muito rigorosos para combater a corrupção no poder público, tomando como indicador que todo o ser humano pode ser corrompido, ainda que tenhamos a sorte de eleger eventualmente indivíduos honestos.
Os escândalos com que somos brindados diariamente, considerados verdadeiros roubos ao erário público, sucedem-se uns atrás dos outros, e a todos os níveis da administração pública, numa sangria desatada que parece não ter fim.
Perante este cenário de assalto às finanças públicas, esperaríamos que as polícias e os tribunais sem qualquer benevolência, resolvessem os problemas, criminalizando com pesadas sentenças para exemplo de outros, todos quantos se envolvem de forma descarada neste tipo de irregularidades, metendo a mão no dinheiro que é do povo.
Enquanto não conseguirmos dotar o sistema de um controlo e fiscalização independente, sem que o poder instalado possa influenciar ou controlar esses processos de inquérito, enquanto não construirmos e dotarmos as contas públicas de total transparência, não haverá ministério público ou polícias que possam dar conta do recado.
Sendo do conhecimento público que os escândalos se sucedem, pergunta-se porque não se combate de forma preventiva estes atos? A resposta está no facto de que as leis, que poderiam condicionar essas irregularidades, são também elas elaboradas pelos beneficiários desses escândalos e de quem os julga, como recentemente foi afirmado publicamente pelo Bastonário Marinho Pinto, tornando-se assim a corrupção num problema sem solução à vista.
Para além da facilidade com que se desvia dinheiro do erário público, existe o duplo benefício do enriquecimento pessoal e financiamento encapotado de campanhas, juntando-se a fome com a vontade de comer.



João Carlos Soares
Barreiro, 12 de Dezembro de 2012

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