O ano de 2012 está a chegar ao fim, aproximando-se
mais um processo eleitoral autárquico, abrindo-se nova temporada da caça ao
voto, e montando-se novamente o circo eleitoral.
Depois de uma autêntica revolução no quadro
organizativo em torno das freguesias, vai a população ser chamada a escolher os
seus representantes mais próximos, esforçando-se as máquinas partidárias por
passar a melhor mensagem dos seus candidatos, antes que os mesmos se
engalfinhem em autênticas lutas campais, onde algumas trocas de partido e
coligações, com a única intenção e objetivo de qual a aliança que mais votos
poderá render a essas forças coligadas, numa manipulação descarada das
intenções de voto, tomando por base sondagens encomendadas, no cumprimento de
uma tradição, já vista noutras temporadas.
Neste contexto, cada um e quase todos em geral,
ensaiam os seus truques e malabarismos para obterem a confiança e o voto das
populações, apregoando honestidade, ética e que por isso devem ser merecedores
de uma oportunidade.
Num contexto de constrangimento orçamental,
resultado da grave crise que o País atravessa, não sabemos como poderão os
conteúdos programáticos dessas candidaturas, assumir compromissos irrealizáveis,
como é prática comum em processos eleitorais anteriores, prometendo mundos e
fundos, com sorrisos, apertos de mão e beijos às criancinhas.
Será este o cenário com que nos vão brindar
nestas eleições, perante o atual descontentamento popular, num autêntico show
de hipocrisia e cinismo, escondendo o verdadeiro conteúdo das suas ações no
futuro, com frases e slogans de ocasião, escondendo hoje para continuar
explorando e enganando quando estiverem alcançados os seus propósitos?
Qual a diferença que se pode descortinar entre os
candidatos e as suas promessas? É preciso estarmos atentos e desconfiar, quando
a fartura é muita e quando as opções apresentadas não são mais do que uma farsa
populista, traduzido numa falta de princípios e valores, pois haverá sempre
alguém que na falta de argumentos, afirme ser diferente dos outros, quando
afinal de contas, usando os mesmos argumentos, são na sua génese, mais do mesmo
e farinha do mesmo saco.
Neste cenário, o que se vai ganhar com estas
eleições, se os candidatos depois de eleitos se esquecerem e fizerem letra
morta no desempenho dos seus cargos, muito diferente das propostas sufragadas e
demonstrado na vontade e voto das massas que os elegeram?
A questão de fundo é que, por vezes, a democracia
é usada e se transforma na forma mais eficaz de algum aburguesamento dos
políticos, exercendo o seu domínio e poder, de uma forma dissimulada, mostrando
a falta de carácter, escondida e mascarada atrás das instituições partidárias
que representam.
Como poderão os candidatos, propostos pelas duas
forças políticas atualmente na governação do País, enfrentar a ira das
populações, enganadas e desiludidas com as decisões ultimamente tomadas,
retirando ao poder local, a representatividade que o povo lhes outorgou, manipulando
e contrariando nas suas costas de forma obstinada a sua própria vontade?
De que servem as eleições e os programas a que se
submetem os partidos, quando legitimados pelo voto das populações, na base das
propostas contidas nos seus programas se, no concreto, esses conteúdos são no
mínimo irrealistas, muito menos replicados nem respeitados na prática?
Cada vez mais, sentimos a disposição do povo para
a luta, num crescendo que faz renascer o espírito revolucionário de Abril, onde
as massas se levantam, lutam e resistem, organizando-se na defesa da vontade e nos
direitos da população.
Não podemos continuar a permitir que transformem
estes processos eleitorais em meras farsas sem sentido, móbil para um crescendo
de descrédito do povo na classe política, resultando num valor abstencionista
elevadíssimo que, pelo cada vez menor número de votantes nas urnas, coloca em causa
a verdadeira representatividade dos eleitos nesses processos eleitorais.
A solução congeminada pelo PSD e CDS para os
gravíssimos problemas em que, as políticas dos diversos governos, desde o 25 de
Abril de 1974, colocaram o País, passa pela destruição do Estado, numa
alternância de governantes que, expectantes, aguardam nas fileiras partidárias
o seu momento, empenhados na destruição sistemática dos pilares da democracia.
Os que hoje no poder, ontem na oposição,
justificam a culpabilidade dos outros, pela calamidade herdada, como forma de
legitimar todo o processo de desmantelamento do Estado Social em curso ignoram
e rejeitam a sua própria responsabilidade e participação nos devaneios, em que
sistematicamente, governo após governo, lançaram a vida das populações neste
cabo das tormentas.
Torna-se imprescindível uma congregação de
esforços em unir as forças populares para impedir a ascensão de uma nova ordem
castradora das liberdades alcançadas, na defesa da democracia e dos caminhos
que decidimos trilhar com a Revolução de Abril, que se opõe à farsa daqueles
que tencionam continuar a explorar as classes mais desprotegidas e oprimidas no
nosso País.
A desilusão das populações, face a um estado
podre e corrupto sem castigo, onde a justiça não desempenhe a sua função,
alimentam um boicote aos processos eleitorais, retirando-lhe toda a sua
representatividade institucional, e tornando os eleitos reféns do repúdio
popular.
Muitos dirão que o caminho será longo e difícil,
exigindo de todos nós um grande esforço e persistência, mas só com essa
tenacidade poderemos libertar o nosso País da tirania de uma elite burguesa, recuperar
a soberania perdida, não acreditando nas ilusões vendidas pelas classes
dominantes e corrompidas pelo poder, neste Estado apodrecido em que
transformaram Portugal.
João Carlos Soares
Barreiro, 10 de Dezembro de 2012
Sem comentários:
Enviar um comentário