segunda-feira, dezembro 03, 2012

O Engodo Eleitoral

Ao longo dos 38 anos de democracia no nosso país, já não nos surpreendem os métodos e técnicas utilizadas nas campanhas eleitorais, onde os candidatos prometem mundos e fundos à população, em troca do seu voto. Usando do populismo para conquistar a atenção do leitor, e experiências temos quanto bastem, quanto a este tipo de comportamento desleal, trazendo graves riscos para a população, que mais tarde ou mais cedo, vão sentir na pele as consequências de tal engodo.
A imagem pública de fachada criada de um determinado candidato, o discurso fluente e simpático que o projeta para uma possível eleição, transformam-se na maioria dos casos, em elevadas faturas a cobrar num futuro próximo, esquecendo-se as promessas de campanha, como podemos constatar nos difíceis tempos que vivemos, refugiando-se no passado e no que os outros fizeram, como razão das suas atitudes e medidas no presente.
Nenhum candidato tem a veleidade de se dirigir aos eleitores, exigindo esforços e sacrifícios, para garantir a recuperação e capacidade de investimento, porque não é popular exigir sacrifícios, nem têm coragem de assumir com transparência os erros do passado e a real situação do País.
Sem meios e recursos ninguém poderá vir a concretizar os objetivos a que se propõe, o que leva a que na maioria das vezes, com um discurso populista e perigoso, com a única intenção de ganhar votos, o tiro lhes saia pela culatra.
A qualquer político, candidato a que lugar for, deve-se exigir responsabilidade e coerência na hora de pedir o voto, assumindo a realidade do País ou Município, respeitando dessa forma todos aqueles que elegendo os seus representantes, conferem neles a competência nas grandes decisões, colocando nas suas mãos as suas vidas e dos seus.
Por todas as razões enunciadas, torna-se necessário e indispensável, a avaliação e apuramento de responsabilidades dos governantes, sem exceção, face à difícil situação das finanças públicas, com a recorrente consequência de precaridade do estado social, onde as mais díspares interpretações dificultam a compreensão da realidade em que vivemos.
Chegados ao poder, é vê-los a defender e a aplicar políticas neoliberais, renegando amanhã na oposição essas mesmas políticas, só porque aplicadas por outros, numa autêntica prova de cinismo e hipocrisia, esquecendo-se das promessas eleitorais e contrariando os conteúdos programáticos com que foram sufragados.
A perversidade das políticas, a irresponsabilidade e impunidade dos governantes, que defendem e apregoam a responsabilização, punição e retaliação dos responsáveis, não passam de mais um rol de intenções inconsequentes, onde cada um desconhece o seu envolvimento e cumplicidade, num presente sem passado e sem futuro, onde as palavras são vazias de sentido, porque para esses caras de pau, só o poder e o presente lhes interessa, tudo o resto é para esquecer.
Portugal está a passar pela mais aguda crise financeira e de valores, resultado de políticas demasiadamente protecionistas, sem que esses mecanismos que controlam os meandros da política sejam exaustivamente investigados. Certamente que iríamos ser surpreendidos pelos resultados, caso houvesse coragem para uma investigação a sério, a qual deveria terminar com uma punição rigorosa dos culpados, para a moralização e alteração nos costumes e padrões da vida pública.
A indignação e a consciência cívica do povo português, há muito clamam por um fim e punição da corrupção que tem corroído a classe política no poder, e que transformaram o País num espaço de negócios duvidosos, numa herança putrefacta que se espera ver definitivamente banida das nossas instituições.
Certo que, tão cedo esse objetivo será concretizado, para eliminar por completo as chagas e hábitos instalados e que têm vindo a contaminar a administração pública no nosso País, mas algo poderá e deverá ser feito no imediato, no sentido da moralização da coisa pública.
Quando tanto se fala em reformas e refundações, talvez fosse importante usar um destes mecanismos, para uma reforma política, como meio de combate e proteção contra a imoralidade instalada.
A bipolarização entre os dois partidos do poder, nestes últimos 38 anos, PS e PSD, na maioria das vezes em coligação com o CDS, têm, de uma forma corrosiva, contaminado e transformado a cena política num mar de lama e influenciado decisões por critérios duvidosos, de consequências fatais à gestão da coisa pública.
O País não suporta mais conviver com esta cultura de engodo, da mistificação e das falsas promessas. A confiança nos partidos políticos tem que assentar em compromissos plasmados nos seus programas eleitorais, assumidos perante a sociedade e com total transparência. Para que tal aconteça, torna-se imperativo que os partidos revejam com seriedade a sua postura, valores, princípios e conteúdos programáticos realistas, atendendo às expectativas da sociedade.
No nosso pensamento, deverão coabitar esperança e convicção num futuro menos conturbado e mais comprometido com os anseios da comunidade, num compromisso que deverá ser sempre o da valorização e representação política, e que transforme pela dignidade e seriedade dos seus compromissos, a inspiração para uma prestação cívica, a todos os níveis, justa e eficaz. A grandeza de uma Nação não pode nem deve ser avaliada nem corroída pelo poder invisível que corrompe as bases do poder, o que colocaria em causa o próprio sistema democrático.

João Carlos Soares
Barreiro, 3 de Dezembro de 2012

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