Ao longo dos 38 anos de democracia no nosso país,
já não nos surpreendem os métodos e técnicas utilizadas nas campanhas
eleitorais, onde os candidatos prometem mundos e fundos à população, em troca
do seu voto. Usando do populismo para conquistar a atenção do leitor, e
experiências temos quanto bastem, quanto a este tipo de comportamento desleal, trazendo
graves riscos para a população, que mais tarde ou mais cedo, vão sentir na pele
as consequências de tal engodo.
A imagem pública de fachada criada de um determinado
candidato, o discurso fluente e simpático que o projeta para uma possível eleição,
transformam-se na maioria dos casos, em elevadas faturas a cobrar num futuro
próximo, esquecendo-se as promessas de campanha, como podemos constatar nos
difíceis tempos que vivemos, refugiando-se no passado e no que os outros
fizeram, como razão das suas atitudes e medidas no presente.
Nenhum candidato tem a veleidade de se dirigir
aos eleitores, exigindo esforços e sacrifícios, para garantir a recuperação e
capacidade de investimento, porque não é popular exigir sacrifícios, nem têm
coragem de assumir com transparência os erros do passado e a real situação do
País.
Sem meios e recursos ninguém poderá vir a
concretizar os objetivos a que se propõe, o que leva a que na maioria das
vezes, com um discurso populista e perigoso, com a única intenção de ganhar
votos, o tiro lhes saia pela culatra.
A qualquer político, candidato a que lugar for,
deve-se exigir responsabilidade e coerência na hora de pedir o voto, assumindo
a realidade do País ou Município, respeitando dessa forma todos aqueles que
elegendo os seus representantes, conferem neles a competência nas grandes
decisões, colocando nas suas mãos as suas vidas e dos seus.
Por todas as razões enunciadas, torna-se necessário
e indispensável, a avaliação e apuramento de responsabilidades dos governantes,
sem exceção, face à difícil situação das finanças públicas, com a recorrente
consequência de precaridade do estado social, onde as mais díspares
interpretações dificultam a compreensão da realidade em que vivemos.
Chegados ao poder, é vê-los a defender e a aplicar
políticas neoliberais, renegando amanhã na oposição essas mesmas políticas, só
porque aplicadas por outros, numa autêntica prova de cinismo e hipocrisia,
esquecendo-se das promessas eleitorais e contrariando os conteúdos
programáticos com que foram sufragados.
A perversidade das políticas, a
irresponsabilidade e impunidade dos governantes, que defendem e apregoam a
responsabilização, punição e retaliação dos responsáveis, não passam de mais um
rol de intenções inconsequentes, onde cada um desconhece o seu envolvimento e
cumplicidade, num presente sem passado e sem futuro, onde as palavras são
vazias de sentido, porque para esses caras de pau, só o poder e o presente lhes
interessa, tudo o resto é para esquecer.
Portugal está a passar pela mais aguda crise
financeira e de valores, resultado de políticas demasiadamente protecionistas,
sem que esses mecanismos que controlam os meandros da política sejam
exaustivamente investigados. Certamente que iríamos ser surpreendidos pelos
resultados, caso houvesse coragem para uma investigação a sério, a qual deveria
terminar com uma punição rigorosa dos culpados, para a moralização e alteração
nos costumes e padrões da vida pública.
A indignação e a consciência cívica do povo
português, há muito clamam por um fim e punição da corrupção que tem corroído a
classe política no poder, e que transformaram o País num espaço de negócios
duvidosos, numa herança putrefacta que se espera ver definitivamente banida das
nossas instituições.
Certo que, tão cedo esse objetivo será
concretizado, para eliminar por completo as chagas e hábitos instalados e que
têm vindo a contaminar a administração pública no nosso País, mas algo poderá e
deverá ser feito no imediato, no sentido da moralização da coisa pública.
Quando tanto se fala em reformas e refundações,
talvez fosse importante usar um destes mecanismos, para uma reforma política,
como meio de combate e proteção contra a imoralidade instalada.
A bipolarização entre os dois partidos do poder,
nestes últimos 38 anos, PS e PSD, na maioria das vezes em coligação com o CDS,
têm, de uma forma corrosiva, contaminado e transformado a cena política num mar
de lama e influenciado decisões por critérios duvidosos, de consequências
fatais à gestão da coisa pública.
O País não suporta mais conviver com esta cultura
de engodo, da mistificação e das falsas promessas. A confiança nos partidos
políticos tem que assentar em compromissos plasmados nos seus programas
eleitorais, assumidos perante a sociedade e com total transparência. Para que
tal aconteça, torna-se imperativo que os partidos revejam com seriedade a sua
postura, valores, princípios e conteúdos programáticos realistas, atendendo às
expectativas da sociedade.
No nosso pensamento, deverão coabitar esperança e
convicção num futuro menos conturbado e mais comprometido com os anseios da
comunidade, num compromisso que deverá ser sempre o da valorização e
representação política, e que transforme pela dignidade e seriedade dos seus
compromissos, a inspiração para uma prestação cívica, a todos os níveis, justa
e eficaz. A grandeza de uma Nação não pode nem deve ser avaliada nem corroída
pelo poder invisível que corrompe as bases do poder, o que colocaria em causa o
próprio sistema democrático.
João Carlos Soares
Barreiro, 3 de Dezembro de 2012
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