domingo, novembro 26, 2006

Estado de Crise

Consequência !
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Na verdade, confirmando-se as denúncias e indício crescente no relacionamento de promiscuidade entre governo, classe política, partidos e administração pública, seria de esperar da parte dos responsáveis, uma atitude musculada e condizente com a exigência de uma gestão transparente e dirigida à solução dos problemas do bem público.
Outra coisa não seria de esperar, não fosse a desconfiança como o cidadão comum se vê confrontado no dia à dia, assistindo ao desenrolar de casos que envergonham uma qualquer sociedade que se pretende socialmente justa, para a qual constantemente são chamados a fazer todo o tipo de sacrifícios em nome da recuperação e estabilidade do país.
Não podemos, contudo, pedir sacrifícios a uns, quase sempre os que menos têm a ver com as decisões erradas de gestão, continuando a permitir que os principais responsáveis pelas situações de crise, que variando de governo para governo, são sempre os mesmos, continuam a desbaratar todo um capital de sacrifício de uma população desiludida, cáustica e incrédula, perante a forma como aqueles em quem entregam o seu futuro, continuam de forma abastada e completamente irresponsável, a tomar decisões que hipotecam e desbaratam esses sacrifícios.
Será que vamos continuar a aceitar impunemente um sistema que permite a prática vergonhosa de indigitar e colocar pessoas em lugares estratégicos, única ou quase simplesmente, com a intenção de facilitar e promover o financiamento na vida partidária e eleitoral, tal como garantir o reforço da sua clientela partidária.
Esta situação, infelizmente, parece ter sido o expediente que criou raízes, utilizado para concretizar e disponibilizar meios e recursos para todo o tipo de campanhas, as quais de acto eleitoral para acto eleitoral, consomem consideráveis recursos financeiros, que não estão como todos sabemos, ao alcance das fracas e débeis finanças partidárias.
Que isto aconteça a partidos de direita, não será de admirar, pois a sua forma de atingir os fins sem olhar a meios, já é do conhecimento geral, agora, partidos de esquerda, deixarem-se submergir por essa lógica movida a dinheiro, já não poderá ser considerado assim tão normal, nem aceitável.
Não sei até que ponto, esta afirmação, possa ser considerada por alguns polémica, criticável e extemporânea. Pelo que constatamos na realidade, é infelizmente quase por regra, aquilo que se passa com pessoas que lutando fora das estruturas partidárias, no início da sua intervenção política, na qual defendem e professam valores de transparência e equidade, são envolvidos por essas estruturas, e de forma quase inevitável, se deixam manipular, ou são triturados pela maquiavélica máquina partidária, esquecendo tudo o que sempre os motivou
É costume dizer-se que por vezes, para se mudar um sistema, será necessário entrar nele, conhecê-lo, conviver com a realidade dos factos e depois promover as transformações que se entendam como necessárias.
Este princípio significa na maioria das situações, usar de inteligência, perspicácia, entrega total na defesa dos conceitos e valores que entendemos serem o garante de um Estado democrático, tolerante e socialmente equilibrado.
Muitas das vezes também significa o conhecimento profundo, só acessível a alguns, das realidades com que são confrontados na malha partidária de interesses e grupos instalados, e o apontar para a retirada de um campo de batalha, onde se sacrificam sempre os que mais se expõem e não aceitam esse destino, de que alguns se acham donos e senhores.

Joao Carlos Soares

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