sábado, novembro 18, 2006

Terrorismo Partidário

Terrorismo Partidário

Acho que apagar o passado começa a fazer parte de uma estratégia miserabilista e altamente reprovável. Apagar o passado, é retirar sentido ao presente, obscurecendo-se a visão do futuro, e a vontade na actividade e nas dinâmicas de percurso na política.
A mania de cada um se considerar superior aos outros é uma praga. Os alemães também queriam ser superiores a todos. Muitos conseguem convencer-se que dominar os outros faz parte do seu destino, não adiantando, na maioria dos casos convencê-los que a tentação do poder poderá transportá-los a excessos desmedidos.
A realidade é que, em termos políticos, convencerem-se de que têm pela frente uma janela de tempo particularmente favorável, uma oportunidade única, poderá transportá-los para uma derrocada irreversível, arrastando tudo e todos para o abismo da intolerância.
Outro aspecto que considero curioso é a forma como os partidos se organizam internamente. Essa organização baseia-se quase exclusivamente mediante uma negociação, que na maioria das situações, nada ou quase nada tem a ver com a competência e o valor real de cada um dos eleitos pela casta dominante. Trata-se de um jogo de influências de corredor e amiguismo, distribuindo o poder pelas diferentes facções, num jogo pérfido de falsos equilíbrios.
Assim, à primeira disputa de lugares, aparecem as primas donas em acção, para alcançar cargos de responsabilidade, sem que para isso tenham dado quaisquer provas de merecimento ou sustentabilidade, enquanto outras numa postura histérica reclamam pelos seus direitos e portam-se como baratas tontas.
Seja o que for que aconteça a seguir, irão entrar em rota de colisão, sofrendo a terrível consequência de desagregação, derrapando para o confronto demagógico.
A máquina partidária responsável pelas tomadas de decisão, raramente é exposta ao conhecimento público. A cobertura dessas decisões, é uma ficção muito bem gerida pelas elites privilegiadas e protegidas, mantida escrupulosamente, que esconde os pormenores práticos da realidade política. Normalmente, em política, consegue-se manter intacta a ilusão da representatividade, com a cumplicidade das respectivas prima donas, evitando assim a dedução embaraçosa de que a ordem actual é realmente sustentada pelas elites que tomam as decisões.
Só quando surge uma clivagem significativa entre os elementos que constituem a classe dominante, ou como se costuma denominar de guerra de comadres, aparece a oportunidade de se apreciar como se movem as peças no aparelho partidário.
A deterioração da relação interna partidária, pode precipitar a situações irreversíveis, com consequências dificilmente quantificáveis num cenário de ruptura extremo. Este tipo de rupturas pode conduzir uma estrutura partidária de facto para um enorme abismo, lançando as diversas facções umas contra as outras.
Uma das ilusões da democracia, é a noção de que a política é conduzida pela vontade do povo. Nada se pode considerar mais longe da verdade. De facto, o sistema corporativo está baseado na ideia de criar selectivamente uma mensagem que se identifique com os interesses e objectivos da elite. Os interesses do público nunca são levados de forma séria nem equacionados aquando da elaboração das políticas, funcionando mais como uma parte tolerada mas não consentida.
A sociedade evoluiu depressa demais em comparação com os partidos ou até mesmo com o sistema representativo que o suporta. O neoliberalismo, a globalização e para além de tudo mais, a profunda alteração nos modos e nos objectivos das realidades peculiares da sociedade, contribuíram para um mundo em constante transformação, o qual não consegue identificar interlocutores nos modelos de estrutura político-partidária que, no essencial, ainda se mantém subjugadas por modelos herdados do século passado.

João Carlos Soares

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